quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Cartas Pra VocêNós

"I never conquered rarely came
Sixteen just held such better days
Days when I still felt alive
We couldn't wait to get
Outside the world was wide
Too late to try
The tour was over, we survive" (Blink 182 - Adam's Song)




Eu nunca pensei que fosse me transformar em uma espécie de irmão mais novo. Observar todos os dias ele com os mesmos dogmas, com os mesmos passos errantes me revirava o estômago. Era difícil aqueles dias em que eu precisava passar horas e horas observando para que ele não cometesse alguma bobagem. Os dias estavam se tornando mais claros, e as noites, escuras. Considerei que ele fosse dormir a noite toda e não iria acordar, quisera eu que ele aparecesse só quando fosse madrugada. Ele sempre levou as coisas muito a sério, gostava de chegar pontualmente nas coisas e costumava ficar ofendido demais quando as pessoas o contrariavam. Era o mais velho, mas ao mesmo tempo, mais novo. Jamais gostei das vezes que as lágrimas escorriam do seu rosto.


O barulho do tiro ainda ecoa como se fosse real pra mim. Talvez ele nunca entendesse o que se passava na minha cabeça. Os olhos do rapaz alguns meses mais novo que eu, preocupado e ingênuo, me deixava com uma enxaqueca só de observá-lo por alguns instantes. Eu estava enlouquecendo, mas ao mesmo tempo, queria parecer que estava sob controle para que não preocupasse aquele moleque. Eu não ousaria deixar os problemas nas costas dele, ele não suportaria. Deixe que o tiro passe pela culatra e encontre o meu peito.


Eu consigo me lembrar meio ofuscadamente que nós éramos íntimos quando crianças. Ele sempre foi o cara que era o líder de modo automático, nos dizendo aonde ir, quando ir e para quem levar as coisas. Ele era meio que tipo o Ciclope dos X-Man com 8 anos, conseguindo associar todos os problemas e resolvê-los como se fosse bobagem. Ele nunca deixara de ser meu ídolo. Eu ainda me questiono o que o levou a se tornar tão triste, tão sozinho, tão... ferido. Ele me olha com um sorriso sincero, e um olhar simples, dizendo que está tudo bem, que ele vai dar um jeito. Ele sabe que eu não acredito.


Eu preciso assumir o controle. Eu tenho a obrigação de assumir o controle. Meus passos ofuscados não são desculpa para que as feridas derramem meu resto de sangue. Pobre situação, estávamos andando em círculos o tempo todo. Eu deveria ter parado de desabafar para ela, ela não tinha como me dizer algo que pudesse diminuir minhas feridas...


Por que nunca me deixou falar? Por que insistiu em falar tudo, sem medo de se ferir? Qual é o problema em jogar o escudo fora de vez em quando? Por que nunca me deixou no controle, qual o problema em deixar as feridas para mim?


O problema não é o escudo, é a espada fincada no meu peito! Eu não ousaria deixar as dores em suas mãos. Esses são meus problemas. Essas são as coisas das quais eu preciso lidar, eu não aguentaria deixar todas elas em suas mãos. Deixe que os momentos de felicidade, como quando eu te vi cantar Wish You Were Here, estampem seu rosto inocente. 


Eu estou preocupado contigo. Eu posso ser ingênuo, mas não sou idiota. Eu te ouvi chorar aquele dia. EU VI você dizer baixinho que queria dormir pra não sofrer. EU VI você reclamar sozinho no seu quarto que não aguentava mais todas essas coisas, por que exige tanto? Por que tenta fazer tudo sozinho, que tal segurar minha mão? Pare de desafiar seu orgulho, não esqueça que eu estou aqui!


Ouça os disparos, caro amigo. Um, para aqueles que foram embora. Dois, para aqueles que estão aqui agora. E três, para mim, que tem jogado a felicidade fora. Eu não posso me salvar mais, eu não sou capaz disso. Eu nunca tinha bebido, e bebi para provar que eu não precisava disso. O álcool nunca fez sentido pra mim. Meus olhos estampam dor, desistência, e obviamente, solidão. Esta noite, pra variar, ela vai ser meu colchão.


Droga, de novo, lá vou eu te abraçar. Lá vou eu escrever cartas sobre tudo o que você quer dizer, mas não é capaz. E cá estou sozinho aqui, escrevendo tudo o que tu queria dizer, mas sua voz já não sai mais que ar. Afinal, as suas palavras que não conseguem sair, é a dor que não consigo sentir. Nós somos piores, não é mesmo caro amigo? Nós somos os mesmos, não é pior caro amigo?

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