terça-feira, 22 de setembro de 2015

Oi, Eu Sou Um Fantasma

 "Se eu dissesse pra você
Que eu sou um fantasma (uhuhuhuhuhuh)
Qual seria a reação, Que você teria? (uhuhuhuhuhuh)
Pois eu acho que ninguém, Me leva a sério (me leva a sério)
Eu quero ser, perfeito
Do jeito que sou...
Eu acho espantoso ver, A falta de atenção (uhuhuhu)
Ver que ninguém da valor, aos próprios fantasmas (fantasmas)"
(2ois - Olá, Eu Sou Um Fantasma)



Tic, tac. Tic, tac. Os minutos se encaixavam em minha cabeça como se fosse uma espécie de música destruída em minhas entranhas. Eu tenho estado numa espécie bizarra de meditação em busca do entendimento da loucura que são as batidas do meu peito, espreitando eu mesmo para que eu caia em minhas armadilhas ridículas. É deplorável tentar buscar alguma coisa quando nem mesmo você consegue dizer se sente alguma coisa, mas apesar de não saber aonde ir, eu sei como ir. Primeiro pé esquerdo, depois direito, esquerdo, direito, até eu bater na porcaria de algum poste ou algo assim.


Os tempos são modernos, dizem as canções que ouço no rádio. Modernização, hein? Tão modernos, ao ponto de matar por um punhado de papel verde. Modernos, ao ponto de enganar uma população inteira apenas para conseguir um Rolex no pulso esquerdo. Estou farto de tudo isso. Os carros passam sem tirar o pé do acelerador, e eu, deixo-me ser consumido pelo calor desse verão. Você não pode me enganar, você não é capaz disso, consigo ver nos seus olhos o reflexo do meu suor perante esses meus passos. Eu estou muito velho pra continuar vivendo, mas muito novo pra continuar morrendo. Merda.


Nunca desejei que o tempo passasse rápido, ou desejei para que eu não o visse passar. Eu sempre fui dos caras que falavam que "o tempo é algo que eu não gosto", e isso falando do geral, das horas, do clima, da situação em relacionamentos. Talvez eu só fosse aquelas luzes de vaga-lumes, que acendem um tempo e depois estão fadados a apagar, como uma luz que queimou. Eu estou lentamente desaparecendo, sentindo o mundo pouco a pouco se desapegar de meu legado, estou lentamente, me tornando um fantasma que conhece os dois lados. Oi, eu sou um fantasma, prazer.


Fantasmas não são necessariamente pessoas que foram mortas. Já me encontrei com muitos, e muitos me ensinaram tantas coisas. Eu sei que os olhos dizem se você está vivo, bem, meus olhos azuis esverdeados estão brincando de suicídio neste momento. E agora estou nesta sala vaga, vagamente perdendo motivações. É sério, eu esperava muito mais dessa vida, e ela é uma vadia e conseguiu me decepcionar. Eu vejo a vida como se fosse o Rock In Rio, paguei pra entrar, me senti confuso ao pisar lá e acabei entrando num barulho infernal que eu adoraria evitar. O problema não é nem o barulho, o problema é quem está lá.


Talvez, só hipoteticamente falando, eu acho que me tornei um chato. Sim, me julguem. Eu não tenho mais paciência para aturar gente infantil, não tenho mais paciência pra suportar opiniões incrivelmente fúteis e também não tenho o mínimo de tempo pra gastar com gente que eu não suporto. Podem atirar pedras em mim, não é como se hoje fosse a primeira vez que fizeram isso comigo. Vou acabar me tornando aquele velhinho na praça que só fica criticando os jovens da época, reclamando de como as roupas estão curtas e de como as músicas estão péssimas. Espera, eu já faço isso.


Tenho me cansado das redes também. Estar em conversas em grupos, "curtir fotos", "comentar status" e postar fotos de minha vida exige muito de meu trabalho psicológico, só de observar tudo isso já me dá um tipo de refluxo. E ultimamente estar em eventos sociais, com pessoas reais, exige demais de mim. Ficar em rodas, conversas e falar bobagens me cansa, me destrói internamente pouco a pouco como se retirassem pedaços e mais pedaços de mim. Eu só cansei dessa história de ser. Fiquei tanto tempo sozinho que quando eu começo a ficar junto eu acabo me sentindo um merda.


Por isso, eu muitas vezes acabo me isolando. Entre a minha força e a forca, tem apenas um cedilha de diferença. O resto, bom, o resto dá pra providenciar. Consegue ver minhas cicatrizes, querida? Consegue ver o sangue seco em cima das feridas? Se conseguir, vamos fazer uma competição de quem chora menos, você por me ver assim, e eu por não dar a mínima sobre a sua preocupação. Me perdoe, mas eu não consigo mais levar a sério o que as pessoas levam a sério. E isso inclui, eu, minha dor, minhas lágrimas, e se tiver mais um pouco, minha cor. Vamos brincar de desaparecer. Eu começo.

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