quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Eu Quero Ir Embora Daqui

"Unmei nante kuso kurae
Yarikirenakute cry for pride
Ah, ah, ah, alone In My World
Hibiku ai no uta
Yuganda sekai magatte negai
Kuzuresatte iku risou to ashita
Haite suteru hodo ni taikutsu datta
Good bye precious life" (ROOKiEZ is PUNK'D - In My Life)





Eu sempre achei que eu pudesse dar as costas e de repente, abandonar o mundo. Mas não foi assim que aconteceu. Ele que me abandonou. Isso não fora nada justo, foi como se eu estivesse sendo apunhalado por um alguém que eu sempre acreditei que pudesse ser meu suporte. E de acordo com meus delírios, todo mundo poderia ser feliz de alguma maneira. Com sorrisos, palavras, sonhos, qualquer coisa, desde que pelo menos alguns instantes, fosse feliz. Ah, se eu soubesse te explicar, te diria tudo o que se passa na minha cabeça. Mas não posso, não sei. Acho que nasci pra ser assim, um falante sem voz.  


Eu poderia também dizer que eu sinto falta do meu passado, lembrar de como é a palavra saudade. Mas falando a verdade, eu não ligo para nada. Na verdade, eu nem sinto como se fosse parte de mim. Coloquei a estampa de “pedaço deslocado que não ligo mais”, e cravei minha alma com espinhos para que ninguém mais pudesse chegar perto. Minhas lágrimas, depois de tanto tempo, não querem mais sair. Meus desabafos demoram muito para aparecer, e minha esperança das coisas melhorarem desapareceu a muito tempo atrás.


Pareço um poeta dos séculos passados ao falar tais palavras com tanta convicção? Pareço para ti um alguém que fala coisas bonitas que são recortáveis e coláveis num caderno de poesias? Me sinto um cadarço queimado, sem utilidade nenhuma. E assim será, pelo menos enquanto eu respirar. Invoquei todos os anjos do céu e da terra, com a esperança que algum deles limpasse minhas feridas, mas tudo o que eles diziam era que “existem piores”. Conte-me alguma história que eu marquei, conte-me algo que eu me sinta melhor. Não existe, não é?


Nunca serei bom o suficiente, nunca serei algo para que eu pudesse me orgulhar, e saber disso às vezes é frustrante demais. Saber que você é limitado a ser apenas o que está na média, nem mais nem menos, apenas mais um como tantos outros. E suas palavras, nunca valorizadas, ficam nos milhares de arquivos perdidos, suas canções, nunca ouvidas, jamais serão reconhecidas pelo público geral e seus sonhos, jamais irão reparar. Jamais irão reparar que você existe, e jamais será como teus sonhos. Pobre rapaz, e um dia achou que podia voar. O nada não existe, o nada não voa.



Às vezes colocar uma arma na sua cabeça e pensar em atirar soe bem interessante, soe de maneira linda, delicada, suave. Como eu poderia chorar em meio ao público pagão? E assim vai, olhando pra janela pensando em voltar para casa, tentar inutilmente saber onde é o seu paraíso, tentar sorrir depois de tanta coisa na sua cabeça e no seu peito. Queria saber como repetir segundos e segundos incansávelmente, apenas naquele instante que me senti feliz, para me lembrar como é sorrir mais do que dois segundos. 


Meus textos alternam em palavras e palavrões, raiva e dor, solidão e só eu. Eu talvez deva sair dessa maldita festa, estas luzes da cidade realmente me incomodam. Eu percebi também que as pessoas aqui não me agradam de maneira alguma. Quando foi a última vez que me senti feliz? Faz tanto tempo que nem me lembro mais. E essas bebidas malditas então, todas infestadas de álcool, todas infestadas de veneno, apenas pra apagar a dor. E eu, que não acredito que essas coisas funcionem, apenas continuo com meus olhares desatentos atentamente torcendo para que minhas horas passem. Eu quero ir embora daqui.


E toda vez que eu grito, alguém me reprime, alguém me diz que estou fazendo tudo errado, que eu estou enlouquecendo. Talvez a última sentença não esteja errada, na verdade está mais do que certa. Minha mente adora achar que eu tenho alguma memória boa para guardar, que eu tenho gente pra trazer junto comigo, sendo que aí fica a pergunta, alguém se lembra de mim? Não há. Pois o mundo hoje se tornou tão ruim, tão maldito que aparentemente eu não tenho funcionado muito bem. Ah, como eu adoro escrever num lugar que ninguém me responde. Malditas horas que não passam. Malditos dias que não acabam. Maldito mundo que não explode.


E eu poderia falar de como foi durante toda a minha vida, como é minha história, e mesmo assim você ia ficar confuso. Ninguém pode compreender como as cicatrizes estão tão expostas, ninguém pode entender de como minhas lágrimas continuam a rolar sem cessar, como se fossem adagas em meu peito, cravando todo dia novas amarguras que eu adoraria esquecer. Meu Deus, eu meio que esqueci como rezar,  mas acho que faz bem te dizer que eu falando contigo ou não, minha solidão continua a mesma. E não adianta reclamar, continua e continuará como se fosse uma fratura grave.


Vejo meu castelo em ruínas, distante, e friamente sigo adiante. Agora carrego em meu peito o medo de construir algo, e a dor de estar só como uma alma penada, como se ninguém conseguisse me enxergar de fato. Não sou algo que possa considerar como robusto, na verdade, de tantas feridas grandes e machucados, que a casca das feridas se tornaram um tipo de escudo estranho, que subitamente, se tornaram tudo o que eu tenho. E é isso, tudo o que eu tenho é apenas minhas cicatrizes e minhas lágrimas. Apenas isso.

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