segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Arritmia

"Quantas vezes esperei até o dia começar?
Quantas vezes acordei sozinho no mesmo lugar?
Quantas vezes eu achei que alguma coisa ia mudar?
E eu fiquei sem nada..." (Fresno - Não Vou Mais)




Estou caindo? Sinto como se eu estivesse seguindo o calor do momento. Observo minhas asas voarem sozinhas ao longe, enquanto eu simplesmente vou caindo como um meteoro em direção ao chão na maior velocidade possível. E pensar que as análises que foram feitas, em nenhum momento foram mentirosas. Foi tão fácil de me ler, e eu achando que eu sabia disfarçar as coisas de maneira natural. Faz tanto tempo que não conheço um abraço apertado e sincero, quando alguém sente que gosta de me abraçar. Talvez isso falte para mim.


Talvez eu só esteja cansado demais de suportar todo esse peso nas minhas costas. Você não sabe como é o meu inferno, você não sabe o quão fervendo está minhas lágrimas, porra! Estou tentando emendar desesperadamente meus cadarços, para que eu consiga andar por mais alguns quilômetros. Pois me sinto tão perdido, e eu chamo por todos os nomes de todas as pessoas que conheço mas nem mesmo o meu anjo da guarda veio me buscar. Estou em pleno deserto, sem ar, sem água, sem eu. Eu nem sei mais onde está aquela coisa esquisita que eu chamo de lar.


E agora eu vou recordando das músicas antigas que eu nem escuto mais, e nem elas me escutam. Nostálgico, no mínimo, dolorido, no máximo. Eu sempre carreguei minhas lutas na minha mochila, mas dessa vez ela estragou. As coisas não são as mesmas coisas de como eram antes. Sou só um pedaço de nada. E hoje a noite, as flores serão atiradas pela janela e eu vou cantar para que vejam as cores foscas das minhas lágrimas.


Talvez o suicídio não seja tão ruim como soa. Talvez minhas palavras rufem os tambores de ninguém, pois não há ninguém esta noite para me dar um abraço. No fim eu perco tudo, não importa quem apareça pra bater na minha porta. E aqui estou, sentado na minha cama observando da janela a escuridão, com uma dor gritante e parece que terei uma hemorragia, eu não consigo parar de sangrar no meu peito. Droga, parece que eu estou eternamente num ciclo vicioso onde vai lá o trouxa, ajuda todo mundo, limpa as feridas dos outros, e depois chega em casa destampa suas feridas escondidas pela sua jaqueta. Alguém tem alguma noção do inferno que está as coisas além da psicóloga? Eu tenho mais problemas que pareço.


Tenho contado as gotas de lágrimas que estão caindo, e meu Deus, estão quase enchendo uma bacia. Está muito pesado, está muito difícil, minhas costas doem demais. Eu já nem escrevo mais para parecer poeta ou um escritor legal, eu escrevo pra não fazer besteira. Por que minhas feridas estão muito abertas, e nem mesmo eu, que aguentou dezessete anos as dores, não vai suportar. Você não sabe como é ficar aqui, sozinho e com medo, não conseguindo parar de chorar. E eu dizia que estava tudo bem, eu sou mesmo um alguém difícil de lidar. Eu disse pra você que eu estava com problemas e mal, pois bem, acho que as coisas não estão tendo nenhum progresso.


Bateram na minha janela, disseram pra mim tentar me divertir. Bom, eu até tento, acredite. Mas estou entorpecido, da pior maneira possível. Não haverá mais parte minha nas partes da vida, se continuar assim. Eu só queria passar o dia todo dormindo, talvez lá na minha cama não haveria mais as feridas em carne viva, não haveria mais cansaço, não haveria mais sobrecarga. Não sinta pena de mim, não é como se eu tivesse pedido pra carregar todas essas coisas. E que venha noventa e oito anjos dizendo que isso é melancólico, e é mesmo. Consegue lembrar das batidas que eu tenho no meu peito? Elas estão fracas, melhor, estão cansadas. Em plena arritmia, eu prefiro deixar a casa toda suja e vazia, talvez por não me importar com a solidão. Acho que me acostumei.


Minha melancolia gosta de aparecer de repente, sem avisar. E eu realmente não tenho muito controle sobre isso, eu sou um péssimo administrador. Deus pode ouvir as lamentações vindo de dentro de mim, e Ele sabe também como está ruim brincar de inferno por aqui. Não tem nada agora que limpe minhas feridas, que limpe as dores que carrego nas costas. Sou um pedaço de pano, um trapo velho que sempre está buscando uma razão pra se existir. Sendo que se sabe muito bem sua função, limpar a sujeira acumulando em si mesmo, arrumando a casa dos outros enquanto a sua se torna o lixão. Dias ruins são ótimos para metáforas.


O quanto eu te falei que eu estava mal e estava difícil, e você nem me escutou? Quantas vezes eu disse que poderia fazer uma besteira se ninguém me ajudasse, e quantas vezes você me ouviu? Para você, foi tudo bobagem e drama. Para você, é coisa natural de um adolescente. Quem teve que procurar ajuda foi de novo eu, de novo o idiota aqui que mal sabe cuidar das próprias roupas. Eu estou sozinho nesse mundo fodido, e de novo você, diz que eu estou querendo chamar atenção. Vai se foder! Desculpa, mas vai se foder! Tô cansado porra, tô muito ferrado. As marcas nas minhas costas se tornaram tatuagens das minhas lágrimas e pretensões. Minha cabeça adoraria neste momento desligar de vez. Talvez eu devesse mesmo desligar. É, parece bom.

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