segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Guilhotina

"I never thought I'd die alone
I laughed the loudest who'd have known?
I traced the cord back to the wall
No wonder it was never plugged in at all
I took my time, I hurried up
The choice was mine I didn't think enough
I'm too depressed, to go on
You'll be sorry when I'm gone" (Blink 182 - Adam's Song)




Eu observo meu primo mais novo focado no seu tablet, naquelas tecnologias que eu pessoalmente repudio, penso que ele está sendo isolado, mas me engano novamente, o isolado desta história sou eu, onde observo pessoas retiradas de um local com bastante gente, e isso é meio que triste. Estraçalho qualquer vontade de ficar ao redor das pessoas, ficar perto de gente que eu confio. Não é que eu não goste, mas ter dezoito anos numa família grande é uma grande bosta. Uma grande. Todo mundo já sabe o roteiro e suas falas, os adultos focam totalmente nas crianças, nos berros que elas fazem, e qualquer movimento que elas cogitam fazer. Os pré-adolescentes, focam em videogames, computadores, e ignoram o mundo real. Talvez eles estejam fazendo a melhor coisa nessas festas. E os adolescentes, no caso eu, se perdem em pensamentos, e colocar em um blog seja a melhor atitude a se tomar.


É meio que repugnante aceitar o fato que eu não sei muito o que fazer da minha vida. Parece que eu tenho tanto pra dizer, tanta coisa pra lembrar, tanta coisa que eu gostaria de explicar, mas tudo que sai são ideias feitas por outros e pensamentos velhos que eu acho que são chatos. Eu fabrico histórias que eu desejo vivenciar, eu canto canções que eu particularmente adoraria escrever, e desejo ser quem eu nunca consigo ser. Eu sou apenas um escritor utópico, desejando coisas através de textos melancólicos e entrando em conflito constante comigo mesmo. O sorriso dela ainda está nítido na minha cabeça, como se fosse meio que uns flashes bagunçando toda a minha cabeça, e isso me faz perguntar, e se durasse? Digo, se não acontecesse aquelas coisas, funcionaria?


Droga, desculpa se ainda lembro dela, talvez eu ainda tenho medo de esquecê-la. É, medo mesmo, pois se eu esquecer, talvez eu não lembre de mais ninguém, talvez eu só tenha cacos repartidos entre amigos e família, e em relação ao amor, eu tenha apenas um espaço em branco. Peço desculpas constantes por que eu cometo bastante erros, mesmo caindo de um precipício. São muito velhas as ideias de que as pessoas são maravilhosas. Eu notei isso ao sair de noite um dia por aí, caminhando e esquecendo onde diabos eu tenho que ir quando tudo acabar. Fumaça de cigarro, música alta, vulgaridade e máscaras de gesso. E eu lá, querendo sair dali o mais rápido possível. Minha mente simplesmente dançava numa música rápida e sem sentido, procurando pular para fora da minha cabeça e cuspir na cabeça de todos. Todos são estúpidos.


E tudo isso vai se alocando na minha cabeça, como se isso fosse me beneficiar de alguma forma. Eu meio que entendi meu sentido apesar de tudo, mas mesmo assim não me sinto confortável com ele. Eu queria memórias, sonhos, risadas, histórias mal contadas, mas tudo o que eu tenho são pedaços de céu nublado. Acho que já decorei todas as canções tristes do mundo, talvez por que elas combinaram tanto comigo. Como eu poderia te explicar que eu não lembro de mais nenhuma razão de continuar vivendo? Um alguém me disse uma vez que eu tenho apenas uma ficha, então para que jogá-la fora? Talvez por que eu acredito que eu não sou tão sortudo quanto os outros, e acredito que tem gente que acharia mais utilidade para tal ficha. O mundo é um jogo de azar no qual eu sempre perco.


Cantando canções para as paredes do meu quarto, vou amarrando as minhas feridas de novo e de novo. Me sinto um herói com uma história medíocre. Geralmente heróis salvam mocinhas, mundos, pessoas que eles querem proteger. Eu quero me salvar. Eu quero ressuscitar esse alguém morto, esse alguém que eu chamo de eu mesmo. E apesar do céu estar azul hoje de manhã, parece que eu mal levantei da cama. Droga, esses pontos de cicatriz se soltam facilmente quando eu durmo. Claro, eu me mexo tanto que acabo mexendo nas coisas que eu nem queria mexer. A tempestade curte essas coisas de aparecer sem avisar, e bom, eu encurto meu perecer pra parar de chover. Eu estou indo para meu julgamento, acusado de não se adaptar ao mundo.


Confesso ser culpado. Acho que minhas memórias não combinam com essas palavras vazias que se esvaziam nas festas que ocorrem todos os dias. O juiz determina a sentença, todos aplaudem. O maior espetáculo acaba de ocorrer, mais um pra guilhotina, mais uma pintura derrama lágrima. Sem arrependimentos, afinal, ser condenado à morte, quando seus ideais e sua ética já foram estraçalhados a muito tempo. Eu estou velho demais para reclamar, mas estou novo demais para me conformar. Estou numa idade onde está tudo errado, mas nem mesmo eu sei o que é certo. E eu estou numa idade onde quero matar todo mundo. Sério. Esse mundo é muito pra mim, muito pra minha cabeça, alguém pelo amor de Deus poderia redirecionar um meteoro pra cá, neste exato momento? Bem para este país, bem na direção da minha cabeça!


A desvalorização das coisas me deixa enjoado. Ver as pessoas da minha idade seguindo pegadas que não levam para lugar nenhum, a banalização de coisas vitais, como a paz e o amor, eu tenho que rir dessas piadas sem graça. Até mesmo o oxigênio se tornou uma coisa esquecível. E depois dizem que é a melhor época da sua vida. Não minta pra mim. Se bem que eu preciso de sua mentira. Talvez reconforte, me confunde como nenhuma outra.  Bom, a canção que toca no rádio me dá vontade de dançar, uma canção lenta, assim como os passos que você anda. Te ver assim, é o que me faz chorar ao chegar em casa. Mas o que posso fazer, não sou um dançarino, ou uma pessoa persuasiva. Eu sou só eu, e meu falso ar profético. Agora olhe para mim, minha querida, fazia tempo que não te chamava assim. Olhe para mim, e veja, os olhos que tinham cores verdes e vivas, hoje só tem cores mortas enfeitadas por flores de plástico.


Quanto tempo ainda me resta até eu cometer um suicídio, e sair da teoria? Quanto tempo leva até eu perceber que meu coração bate por tédio? Quanto tempo leva até eu perceber que eu não sigo e sim que a vida me leva? E há quanto tempo eu não te vejo, minha querida? Bom, não importa mais nada. Eu perdi tudo o que eu imaginava ter. Eu guardei todos os espinhos que eu sabia que iria doer. Eu me envolvi com tudo o que iria me crucificar depois. Mas tudo irá ficar pra depois. Tudo se vai como poeira em alto mar. E eu, me sinto como um grão dessa poeira, assim como tantos outros por aí. A diferença? A diferença é que eu não sei nadar.

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