sábado, 10 de janeiro de 2015

Punhos

"On a rope and pulled through the ocean
With my heart, I'm lost out at sea
And every kind of thought screams misery
So lonely" (Angels & Airwaves - Tunnels)





Palavras repercutem em meus jornais velhos. Ecooam-se vozes que eu costumava encontrar todos os dias, e lembranças da infância se tornam uns trailers rápidos e curtos. Derrubo novamente minha espada como um covarde, quem sabe algum guerreiro nobre encontre ela mais tarde, e faça dela uma boa arma. Mas mesmo sem espada ou escudo, as minhas mãos vazias se tornam um tipo de ferro. Este ferro, então, enferruja de uma maneira que eu não consigo raciocinar na mesma velocidade. E facilmente, eles cortam este ferro. Agora, meus punhos sangram como nunca, como se estivesse fazendo algum tipo de sacrifício. E depois que a batalha termina, vejo uma pilha de corpos e eu com os punhos manchados de sangue meu e dos outros. Deito no chão, suspiro e choro enquanto observo as estrelas. É incrível como a imensidão do universo faz as pessoas se sentirem grandes, ao invés de nos fazer sentir pequenos, penso eu. É tarde, acho melhor eu ir embora.


E os vagalumes vão vagando pelas trilhas desconhecidas deste frio, é incrível como eles brilham num lugar tão escuro. Eu fico maravilhado com tantas coisas ao nosso redor, e acabamos valorizando pessoas. Pessoas. Gente que machuca, gente que fala coisas sem saber, gente que pensa, mas pensa errado. Maldita inclusão da humanidade. Despenco de um prédio do trigésimo sexto andar sem mesmo sair da cama, sinto como se estivesse desabando. Até que não é tão ruim, o ruim em si é a parte que você se esborracha no chão e percebe que só estava dormindo. O vento na sua cara, a velocidade incrível e ao seu lado apenas o ar e seu prédio, a emoção disso. Mas você acaba caindo da cama, percebe que está atrasado para o seu trabalho e nem lembra de passar o desodorante. O mundo é uma droga quando você acha que morrer em seu sonho é melhor que acordar.


Pouco a pouco vou dançando enquanto a água vai chegando perto da minha boca. Estou preso numa cabine cheio de água, e estamos perto do fim. Estamos tão perto, que parece que foi curto o tempo que passamos juntos. Eu memorizei todas as fórmulas de sobrevivência nesse mundo, com a esperança de me adaptar, mas fora em vão. Eu tracei meu destino ao virar as costas para o comodismo e a mesmice, e eu conjurei inimigos ao desprezar culturas e sons. Mas eu sei, que minha voz se amplifica  numa caixinha de música e o que fica, dissipa. Escrevo com palavras que eu nem lembrava mais, mas é costume escrever coisas novas quando eu me sinto sozinho. Ou seja, é bem frequente.


Aqueles livros atirados na minha mesa não fazem muito sentido para mim, se eu não sinto eles perto de mim para quê eu supostamente deveria ler? Para quê ler senão sentir aquele turbilhão de sentimentos e pretensões, costurado com a sua vontade? Eu me recuso simplesmente a me distrair com eles por obrigação de minha própria personalidade. O buraco do peito ainda está aqui, como se fosse uma tatuagem bem feita. E bom, não é como se eu me importasse comigo. Eu não ligo muito para o que pode me acontecer, eu estou ótimo com essas cicatrizes feitas todo dia.  Talvez eu seja um masoquista? Talvez. Mas talvez eu já esteja na parte de que eu não consiga mais lutar, que eu não consigo mais sentir um pingo de prazer em respirar.


É incrível como a solidão adora me surpreender. Ela adora aparecer em horários e cenários inusitados, com todos os meus brinquedos quebrados com aqueles passos pesados, carregando nas costas toda a minha história. Deito novamente no chão gelado do meu quarto, percebo que o teto do meu quarto se tornou tão escuro quanto a minha própria expectativa de vida. Atiro para o céu de novo, como se ingenuamente eu não soubesse que a bala vai cair. Bom, o céu não segura problemas dos outros. Minha velha amiga continua jogando jogos de tabuleiro comigo, me questionando se eu não me canso de estar com ela, respondo que sim, mas não é como se eu tivesse escolha. Sinto como se o meu jardim estivesse sendo bombardeado constantemente por aviões feitos de palavras, e sinto que "viver o sonho" já é uma frase utópica.


E um monte de fardos vem me dar abraço, afinal, são os únicos que lembram que eu gosto muito de receber abraços. Quando eu chamo alguém pra mais perto, ela vai pro lado oposto, então eu acabo me esquecendo como é estar acompanhado, esqueço como é estar abraçado com alguém. Faz um bom tempo. Eu estou me consertando devagar, estou fazendo minhas coisas, priorizando, mas droga, a solidão acaba comigo. Eu não quero acabar percebendo que eu não existo! Eu quero me fingir de idiota e acreditar que eu não sou invisível. Eu digo que quero mudar, eu digo que tento fazer mudanças, mas acabo voltando sempre nesta merda. Como que ela gosta tanto de mim assim? Como ela se apegou de tal forma comigo? Eu não posso, devo ou muito menos quero reclamar e chorar. Isso é ser ingrato. Isso é ser imbecil. Foi o que me disseram.


Me sinto uma fita isolante. Uno cabos que funcionam bem juntos, conserto coisas que pararam de funcionar, faço remendas em coisas soltas, só que eu acabo esquecendo de me consertar. Então, eu sacrifico meus dias. Talvez eu seja algum tipo de mártir adolescente. Merda. O sono até veio meio depressa, mas acontece que se eu dormir, acordar amanhã vai ser dolorido. Sentir que seu corpo e sua mente não quer sentir a sensação de acordar sozinho, acordar e ver tudo vazio, é terrível. Depender de seus amigos e família de repente, se tornou algo tão grosseiro e doente, que você quer evitar. Você quer arrumar, mas tudo que faz é bagunçar mais e mais. E como eu poderia explicar isso melhor do que sentindo isso na pele? As pessoas que eu tento aproximar um pouco me repelem, talvez por que eu não sirvo para elas. Eu quero deixar de lado isso tudo, está realmente vazio aqui. Dentro e fora do meu peito. Aqui.

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