domingo, 5 de janeiro de 2014

Pseudo

"Fui levantar, não achei
Um bom motivo pra acordar
Tá tudo bem, não, não há
Com o que se preocupar
É que eu me encontrei com o nada
E acho que meu lugar é aqui"
(Moptop - Desapego)



É um belo dia para se enganar com sonhos inigualáveis. Pessoas se machucando, mundos colidindo, gente chorando e dores que a gente sabe que nunca irão se curar. Alguns no entanto fingem muito bem em seguir em frente, colocando noventa e cinco "segundas e últimas chances",caindo de um precipício feito de papel escrito com palavras cheias de sentimento, de como queria fazer tudo de novo, acertar os ponteiros e ter aquele alguém por inteiro, poder respirar aquele ar como se fosse a última coisa pra se fazer na vida.


E ninguém pode facilitar essa parte de seguir em frente, ninguém pode nos mostrar um caminho mais fácil para esquecer, ou ao menos doer menos. Somos humanos, meros fracos e estúpidos que dizem que não querem lembrar o que no momento está sendo passado como se fosse um filme na cabeça, colocando seu ego num quebra-cabeça cheio de peças faltando. Aquela pessoa é uma grande parte do quebra-cabeça, que aparentemente não faz muita questão de voltar. E a gente volta a desenhar num papel uma coisa parecida como uma peça, recortado de maneira cuidadoso, como se isso fosse preencher um vazio imenso.


Não vai, a gente sabe. Alguns guardam fotografias, como se fosse um pedaço de uma peça, um resto de saudade que a gente sabe que preenche o quebra-cabeça inteiro. E cá estamos lá novamente, num abismo sem fim, numa lágrima morta pela saudade, pela vontade de ligar desesperadamente pra pessoa dizendo que a quer de volta, que faria tudo pra ela voltar, que ela poderia até fingir um sentimento, a gente não liga, a gente procura um pseudo-sentimento, um pseudo-carinho, como se isso pudesse preencher o vazio de uma dor que vai inchar e provavelmente nunca vai sarar.


E eu falo em terceira pessoa, como se eu fosse um expert nessas coisas. Não sou, sou mero moribundo que costuma catar cacos de carinho na rua. Hoje estou só, com uma tela de computador na minha frente, com um sentimento de deixar de lado todas as águas fervendo de carência, com aquela sensação de querer deixar que a cidade em chamas se torne um incêndio por completo, atingindo amigos e inimigos, quebradores de coração e doadores de um. Ninguém se importa com ninguém, nunca se importaram, e nunca se importarão.


É tão patético, chego a pensar se sou alguém pra se conversar. Provavelmente não. Coloco-me num dilema extremo, no qual eu me deixo levar num vento sem direção, ou luto contra ele até morrer sem respirar. Eu estou no meu limite, ou melhor, até passei dele. Sou coração sem batida, sou lágrima sem partida, até alguém vir me salvar. Provavelmente não virão. Sou um capacho do tempo, e por enquanto, eu me aguento. Está tudo bem ser insuportável para que os outros suportem entre si. Sacrifico os meus dias pelos dos outros.


Não é como se eu tivesse planejado acordar e de repente pensar "Nossa, vou quebrar meu coração hoje". Eu costumo fazer o contrário, costumo planejar quase um mês para puxar conversa com uma pessoa para que ela veja o quão eu consigo se tornar insuportável e ela simplesmente me cortar de uma maneira estupidamente brusca. Sou um peão num xadrez lotado de rainhas do time adversário, eu sigo em frente, todos os outros tem liberdade para ir para todos os lados. Sacrifico agora minha liberdade, para que outros possam dizer que são livres.


Escrevi uma canção hoje, nela dizia "amor,eu não te amo". Lógico que não escrevi, mas se escrevesse provavelmente chocaria trocentos casais que acreditam que tem que dizer eu te amo o tempo todo. Parem de ser estúpidos, amar uma pessoa não é provar com palavras o tempo todo, como se fosse uma insegurança incessante de que a perca, amar é apenas compartilhar momentos. É como se fizesse que o dia acabe mais cedo, é como se o luar resolva nadar no mar. É apenas esquecer um pouco o egoísmo e tratar a pessoa ao seu lado como se ela tivesse que receber todo o carinho que você recebeu de sua família seja lá durante quanto tempo.


Vontade eu tenho, de lutar contra o meu egoísmo, mas a maré realmente não está ajudando. E assim sigo nadando contra as ondas fortes, quase me afogando de vez em quando mas lutando. Enquanto o mar é morto, eu sou vivo, sou silêncio gritante. E ligo meu rádio, com a sintonia na playlist que passei a tarde toda montando só pra eu relaxar, não preciso dependência quando ninguém me quer. Se querem assim, por mim tudo bem, posso conviver com isso. Não posso conviver com pseudo-partilha e pseudo-solidão. Não há meio termo pra sentimento.

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