segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ele Só Tem Dezessete

 "When you were standing in the wake of devastation

When you were waiting on the edge of the unknown

And with the cataclysm raining down

Insides crying, "Save me now"

You were there impossibly alone" (Linkin Park - Iridescent)



Sinto-me atirado numa fornalha feita de desconhecido, umas lágrimas sendo atiradas como álcool e eu sendo amarrado com todos os meus problemas, arrependimentos e erros, sem poder me defender. Como posso pendurar nas paredes anjos que me apunhalaram sem mais nem menos? Hoje é aqueles dias que chove o dia todo, e que não encontro muito tempo para respirar. Eu deveria fechar todas as portas e janelas, e apenas esquecer do mundo, e simplesmente dormir? Eu deveria pregar minha solidão na porta do meu armário, para que dia sim dia não eu vá sentindo devagar.


Entretanto, por mais que eu queira que tudo se exploda, que as palavras da minha boca se tornem resto de oxigênio, os dias passam. Querendo ou não, meu dia vai passando como um lápis sobre um papel. Entretanto, mesmo que eu seja pisado todo dia, que eu seja sempre desprezado por todas as garotas dessa cidade que se transformou em uma fogueira, meu orgulho ainda segue como uma lápide, firme e sem fazer questão de sair do lugar. E eu, agora, notei que ao contrário de todas as canções que costumo ouvir, eu não tenho lembranças pra recordar. Não tenho nada entre minhas mãos.


Deixe-me cantar pras paredes, vai que uma delas se apaixona e cobre esse vazio que se tornou um vácuo gigantesco entre meu corpo. E tudo o que eu consigo pensar são memórias curtas de sonhos que nunca existiram, meus breves teatros que me enganam todo santo dia, fazendo com que eu me sinta feliz por alguns segundos, e logo depois eu acordo e vejo que meu mundo está sangrando como se fosse uma hemorragia. Saio lá fora, vejo como o céu resolveu ficar nublado justamente num fim de semana, pego algum ar e volto à essa casa abafada, feita de meus suspiros e meus vazios.


Essa minha mania de me apossar, mesmo quando não tenho esse direito, faz com que meus pensamentos se embrulhem como pacotes vazios. Eu sei, é mais do que errado confundir sonhos com realidade, mas a minha carência automaticamente digitaliza nas estrelas um rosto que eu sei que não posso e não devo, me apossar. Saudades de quando eu precisava respirar, eu respirava e de quando eu pedia atenção, recebia. Agora, me transformo num tipo de monstro que se alimenta de solidão e da alma das pessoas, como se o errado fosse eu.


Talvez eu deva simplesmente deixar de lado, esquecer que existe outros lados e apenas me apagar, como uma lâmpada feita de resto de energia fraca. O sangue fica mais veloz, as lágrimas não consegue acompanhar meus movimentos. Eu vejo as luzes de fora brincando de serem vaga-lumes,  vejo as brasas se queimando como eu me queimo todos os dias, sendo gentil e legal com todos, sem receber muita coisa de volta. Deveria ir descansar depois dessas coisas sendo passadas para os meus olhos, as lembranças brincando com minha mente e zoando ela toda? Também gostaria de saber.


Chega até ser patético meus passos abandonados numa rua vazia. Era fácil de se ler, aonde diabos ele colocou sua razão, escondida atrás de um coração que quase parou de bater. Gostaria de ser apenas um mero reciclável, que logo fosse jogado em alguma lata gigantesca e que eu me transformasse em algo mais útil do que um mero dramático que acha que o mundo vai desabar se ele continuar incompleto como um tempo nublado sem chuva. Acredito veemente que se ele fosse um alcoólico, estaria deixando o ácido queimar sua garganta como se fosse a última coisa que restasse de importante.


A hipótese de suicídio se torna apenas uma diversão para os pensamentos que se alimentam da minha dor. Eu sempre soube que eu era um perdedor idiota, mas nunca cheguei a esse nível de covardia. As vozes se calam, como se os meus retornos voltassem para outros retornos, num ciclo vicioso. É dolorido demais, ficar em casa e nunca ser deixado em paz, como se a culpa de todos os erros fossem meus, então que as profecias que inventei de última hora sejam sua pedra que carregues, que meus sonhos sejam balões de ar que se estouram no seu céu.


Ele só tem dezessete, coleciona cds e tem perdido no seu quarto alguns videocassetes, mas seu chão é muito bagunçado. Seus olhos azulados estão cobertos de lágrimas e de manchas vermelhas, as roupas que usou mais cedo estão atiradas na cama, sua autoestima está atirada na parede, muito machucada. Seus sonhos estão no chão, como velhas cartas que foram relembradas sem querer, e ele não sabe mais o que fazer. Voltou a costurar, seu sorriso perdido, sua tentativa estúpida de se salvar com uma imagem de bom rapaz, e cortou a linha de quando tentava ficar em paz.


Esta noite não haverá estrelas, haverá lágrimas pra ele se machucar mais e mais. As paredes não seguram mais os barulhos do seu coração, que grita intensamente, dizendo que quer parar de trabalhar, pois não aguenta mais esse lugar. E ele, como resposta, sorri, diz pra ele aguentar apenas mais uns 60 anos, em respeito à aqueles que passaram pela casa dele. Continua a mesma coisa, ele sendo um cretino idiota que não liga para si mesmo, feliz pela felicidade dos outros, mas um sociopata perante ao seus sentimentos. Ele não sabe como se faz para acreditar no mundo de novo.

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