terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Coração De Vidro


"Quem é mais sentimental que eu?
Eu disse e nem assim se pôde evitar" (Los Hermanos - Sentimental)



Era uma vez um coração modelado de vidro. Tinha a transparência a mil visões, entretanto, ninguém conseguira entender suas razões. E, assim, moldava-se a própria sombra, a hábitos de se esconder num mundo de timidez, e a sorrisos que não o levavam a lugar algum.


Costumou-se com os costumes. Habitado com os hábitos, com a mesma rotina, mesmos rostos de sempre, mesmas pessoas, mesmos mundos, mesmos corações de carne que tentavam abrigar-se dentro dele, mas poucos conseguiram.  Alguns de tanto tentarem, foram embora. Outros desistiram logo no começo, e alguns até tentaram o quebrar por alguma razão.


E ele não entendia, por que logo o abrigo dele era tão difícil, por que ninguém fazia de seu coração um coração completo? Entendia como se fosse um coração decidido a se abandonar em própria ilusão de coração completo carnal.


E, de repente, uma canção tocou no último baile dentro do seu abrigo. Era uma lenta, poética, simples, amável, e de repente, um vulto assombrou o rapaz dono do coração de vidro. Aquele vulto o guiou para as profundezas de uma alma de uma garota com um coração de vidro também.


Ele não pensara duas vezes, pegara na mão dela, começou a dança do mundo feliz. Apesar da sentença “uma distância entre mim e você”, o guri até que estava melhor. Dane-se se tinha um coração cheio de transparência, vidro coberto ao invés de uns pedaços de carne, não importava. Ele a tinha, mais nada.


Espera, algo aconteceu! O que foi, quando, onde que ele estava com a cabeça ao perder um caco do seu coração? Ele ligou umas trezentas vezes no celular dela, mas quem irá atender nessas horas? Ele mais uma vez, se fez de idiota. “Tá tudo bem, não importa, eu ainda a tenho, que se dane esse caco”. E a cada sentença que se passava, ele sorria por que apesar de tudo, ele a tinha. Tinha.


Era quase oito da noite, ela tinha que ir pra casa. Ele estava entrelaçado com ela, dois vidros se transformando em carne. Ela sorriu e olhou para baixo, ele estranhou. E então, como se ele tivesse previsto o imprevisto, ela fez o impensável. Ela disse, “desculpa”, e então, um coração de vidro foi jogado ao ar e partiu em milhões de pedaços.


Ela se foi, seu coração também, e agora, não será uma canção tocada à meia-noite, que vai fazê-lo colar o resto dos pedaços.  O que resta é um vazio, um buraco no peito, e um sorriso feito de bolhas de plástico.
Lembrou-se de quando eles eram um casalzinho meloso e apaixonado. Pra eles, parecia que o infinito parecia estar ficando fácil de contar, os tons mais brilhantes de amarelo tornava-se tão ofuscado, parecia que eles haviam se roubado de um mundo desgastado.


No entanto, agora a chuva dava cor junto com a iluminação do poste daquela praça abandonada. O mesmo horário que eles costumavam namorar escondidos, o mesmo horário que escapavam da sentença suja e cretina.


E, assim fica a moral da história, um guri que de tanto cuidar de seu coração, o partiu em milhões de pedaços. E, de uma garota, que tentou o entender, mas esqueceu que sentenças são sentenças e que não se pode fugir de um julgamento.

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