terça-feira, 17 de julho de 2012

Nosso Amor é de 10 Anos

"O coração não tem idade
Pra se apaixonar
O amor, o peito invade
Quando quer chegar" (Roberto Carlos - O Coração Não Tem Idade)

Retirada do site:Sua Escolha


As mesmas luzes daquela praça vazia não me impressionam mais como me impressionavam nas primeiras vezes que eu vinha no acaso dos horários. Não é pra parecer poético, mas ultimamente meus horários se contorceram e perdi a noção do tempo.


Eu lembro que eu já tive tudo, uma casa pra voltar, um emprego pra trabalhar, uma mulher e filhos pra amar. Eu lembro que eu me perdi em tudo, que eu esqueci que em casa não era pra trabalhar, o emprego não era pra amar, e mulher e filhos para abandonar. Eu fiquei preso no engarrafamento da minha própria rua.


Lágrimas não são do tipo que combinam com um homem, pelo menos é o que eu deveria ser, e não um rato, que se esconde atrás de praças vazias e em bebidas. Estou só pela milionésima vez. Não é como se eu não estivesse desacostumado com essa sensação de estar vazio e solitário, apenas não gosto dela. É, eu a odeio.



Olho pras ruas que não para, olho para os carros que parecem se mover lentamente pra mim e as pessoas distorcem minha imagem, como se eu fosse algum mendigo perdido. Lentamente, vou pedindo uma ajuda de lá de cima, sé que ainda se importam comigo, que deixou de acreditar faz um tempo e agora já se perdeu e não sabe aonde ir.


Sinto algo estranho.Vejo uma silhueta entre alguns arbustos. Confesso que fiquei com medo, meus olhos começaram a se desesperar. Pensei que era apenas alguns cachorros, já que vi aos montes eles andarem por aí. Mas não, não era o que eu esperava.


"Oi" foi o que ela disse. O que alguém como ela, uma garota desajeitada, estava fazendo lá? Tá eu não sou tão novo com meus 28 anos,mas eu ainda sou um jovem. Ela estava com uma roupa normal, porém, aparentemente, não tinha mais nada. Aparentemente, parecia ter fugido de casa.


Perguntei o nome dela, ela disse "Liliane, mas pode me chamar de Lili" e sorriu. Nunca vi uma garota tão linda assim, superou até o da minha ex-esposa. Eu a amei como nunca a tinha amado, mas ela tinha mudado. Ela não era mais a garota que eu me apaixonei, a garota que eu disse "Sim" na frente de todas as pessoas conhecidas. Abandonei aquela casa maldita, ela me condenava por tudo e os nossos filhos viam nós dois brigando todos os dias.


Eu disse meu nome,e perguntei se ela tinha algum lugar pra ir. "Eu lembro que eu já tive tudo, uma casa pra voltar, mas agora não tenho nada" e escorreram algumas lágrimas sinceras. Eu as enxuguei, e com muito esforço, inventei um sorriso.




 "Posso ser seu sorriso de agora em diante?" a indaguei. Mesmo assim, ela preferiu não responder. Eu disse que eu tinha um espaço pequeno, mas achei que dava pra ela dormir lá em casa, por enquanto. Ela aceitou a oferta e me acompanhou até o apartamento.




Eu aproveitei e passei na casa da minha irmã e pedi algumas roupas emprestadas, disse que eu tinha uma parente distante nossa e que ela estava sem muitas roupas, que a mochila dela havia sido perdida no aeroporto. Ela nem ligou e me deu uma mochila de roupas.




Eu entreguei prontamente para Lili. Ela agradeceu, e disse que desse jeito iria se apaixonar por mim. Eu fiquei um pouco envergonhado, afinal, não é uma coisa normal de se ouvir, principalmente de alguma pessoa que você acabou de conhecer. 




Passado um tempo, já estávamos bem íntimos praticamente. Fazíamos lanches juntos, ela arrumava a casa enquanto eu trabalhava. Ela nem ligava se eu ficasse até tarde trabalhando, ela me esperava. Inconscientemente, eu fui me apaixonando. Apaixonado pelo tempo que me restava....tsk,tsk.




Um dia, eu voltei cansado do trabalho. Eu a encontrei na mesa deitada, eu tentei, em vão, acordá-la. Eu achei que ela estava dormindo, mas não era apenas isso. Eu comecei a ficar assustado e desesperado. Não,de novo não. Não vão tomar meus sonhos de novo. Não, por favor.




Eu estava desesperado. Coloquei ela deitada no banco de trás do carro, e estava correndo muito. A chuva maldita não parava, não conseguia ver quase nada, mas nada importava além da saúde dela. Então,subitamente, tudo girou. Onde estamos, o que diabos está acontecendo, eu morri? Alguém responde!... Tudo escureceu. Parece que eu realmente morri.




Então, algum tempo depois, não faço ideia quanto foi, apenas sei que muito tempo estive nesse escuro, ouvi uma voz familiar. Acordei, e vi uma garota deitada numa cama de hospital do meu lado. Obviamente, estava enfaixada e com várias marcas. 




Ela, mesmo naquele estado, sorriu e disse algo bem inesperado "Não precisava sofrer um acidente de carro pra me salvar de uma descida de glicose". Eu fiquei pasmo, não, assustado. Como assim, ao invés de me culpar, de me xingar por ter feito ela sofrer de algo pior, ela sorri? Eu a indaguei e perguntei "Por que não me culpa?" e ela sorriu e respondeu: "Espera a gente sair do hospital, eu te conto o por que."




Depois de um longo tempo, é, ainda tem sequelas, como sacrifício das minhas pernas daquele acidente, agora a cadeira de rodas é minhas novas pernas. Eu lembro que perguntei o por que e ela respondeu "Por que culpar alguém que eu amo incondicionalmente, além de ter me salvo da solidão?". Ah, eu também perguntei o por que que eu encontrei naquela praça sozinha, ela disse que os pais dela haviam morrido e naquele dia ela tinha 17. Ou seja, me senti um velho pedófilo. Mas ela disse que não era pra se preocupar, afinal, nosso amor é de 10 anos!

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