quarta-feira, 11 de julho de 2012

A Anja e O Robô

"If I could just rewind, Isee it in my mind
If I could turn back time, you'd still be mine (...)" (Bon Jovi - Misunderstood)




Estava lá eu, jogado naquele ferro velho, sem movimentos ou pensamentos. Estava tudo escuro, chovia muito forte naquela noite, e daquele jeito, eu iria enferrujar, sé que eu já não estava. Então foi que tudo aconteceu de repente, me senti quente, alguém estava me abraçando forte.


Olhei direito, era uma garota de vestido branco. Ela estava sem expressões muito menos movimentos, apenas me abraçou forte durante aquela chuva. Não estava se importante com o vestido molhado, se iria pegar alguma doença ou algo do tipo, e também não faço ideia  o por que dela ter me abraçado. Mesmo assim, era tudo o que eu precisava no momento.


Desativei meus olhos por alguns momentos, e quando os ativei, eu estava num sofá. Não estava jogado como se fosse um brinquedo, mas colocado como um bebê em seu berço. Olhei para os lados, e percebi que meus movimentos não estavam enferrujados, não doía mais. Percebi que era um robô renovado.


Não havia nenhuma pessoa no mundo que poderia me provar agora que sou uma bola de restos de ferro. Aparentemente, agora eu tinha um lar. Escutei alguns passos da escadaria, ela desceu suavemente. Com seus cabelos úmidos, percebia-se que ela havia tomado um banho.


Ela simplesmente sorriu e perguntou se eu estava com fome. Como eu poderia estar? Sou um robô! Sigo ordens, obedeço, não tenho outra função além de ter um coração inútil. Minha única função é servir sem ter algo em troca, ao contrário de humanos, que fazem algo pensando no que vai receber.


Ela deu de ombros e disse que eu pelo menos tinha um coração, que aquilo um dia iria servir pra algo. Disse que iria dar uma volta, e pegou na minha mão. Sorriu, e disse: "É hora de desenferrujar sua vida". A frase que mais me marcou, posso dizer.


Cara, foi o passeio mais curto mas ao mesmo tempo mais longo e divertido que já passei. Brincamos de várias coisas, olhamos aquele rio bonito que tem no parque, cantamos umas canções conhecidas, olhamos as estrelas de noite.


Estava realmente cansado depois quando chegamos em casa, parecia que minha bateria iria acabar a qualquer momento. Ela fez questão de me deixar ao lado dela, naquela cama de casal super confortável. Pronto, tudo o que eu precisava. Uma cama confortável, aquela garota com aquele rostinho perfeito dormindo, e carregar minhas baterias.


Logo quando me ativei e vi que ela não estava em lugar algum, fiquei desesperado. Ela não podia ter ido simplesmente embora e me deixar sozinho. Foi quando ouvi a porta se abrir, e ela sorriu como sempre fazia. "Que foi? Achou que eu tinha ido embora? E deixar você sozinho? Nem pensar!". Fiquei aliviado e abracei suas pernas,afinal, eu era muito baixinho para ela.


Ela se alimentou e disse que teríamos um passeio especial. Fiquei animado. Fizemos as mesmas coisas que fizemos nas outras vezes, que até estranhei por que de especial não tinha nada. Só que quando o sol começou a sumir, ela olhou pra mim e disse: "Sabe por que é tão especial? Por que hoje você aprenderá pra que serve teu coração."


E vi que a imagem dela estava se dissipando, aquele sorriso estava sumindo, enfim, notei que ela estava partindo. "Serve pra amar, coisa que fiz nessas semanas que tivemos que nem vimos o tempo passar". E sumiu com aquele sorriso que eu gostava tanto.


E assim termina essa carta pra quem me encontrar por aí, posso estar tanto numa lata de lixo como jogado num canto qualquer. Só quero que saiba o por que de eu jogar fora meu coração logo após a minha história e a dela, a da Anja e do robô.

0 comentários:

.