Tique-taque, o relógio vai soando devagar. Eu penso que o tempo vai sumindo na minha tristeza, pois até agora parece que está tudo em câmera lenta. Você estava saindo do portão de minha casa há dois anos atrás, num dia de outono.
Parece que eu esqueci seu rosto, não consigo mais me lembrar. Parece que eu perdi de novo, nem você está aqui para me dizer o que fazer. Essa derrota vai me abraçando e me lembrando dos dias em que eu e você erramos, nos dias em que brigamos.
Eu pensei em te procurar, te visitar um dia desses. Mas de que adiantava ficar tentando? De que adiantava acreditar em algo que eu mesmo já desacreditei? Os sinos da verdade já choravam faz tempo, e me diziam para parar de mentir.
Enquanto você respira, eu vou me sufocando neste meu próprio ar. Enquanto você vive neste mundo imundo, eu vou pisando em cacos que nem sei de onde vieram. Talvez eu nunca devesse te conhecer, talvez meu corpo merecesse a solidão.
Eu te prometi o céu, e te dei. Eu te prometi o mar, e logo depois te dei também. Você não pediu, mas eu também te dei meu coração, que já estava apodrecido e sujo. E agora, quem sabe, você o guarda com carinho.
Eu vou contando as horas, e às vezes, eu tento te ligar. Você desliga e não consegue me dizer o que realmente quer dizer. Eu queria apenas um dia para te mostrar que eu mudei, ou apenas um minuto ou qualquer segundo.
Eu até pensei em lhe dizer que iria partir, mas eu não teria coragem de deixar tudo o que eu conquistei até hoje. Eu tentei roubar você para mim, mas agora eu acho que só me resta a cadeia da solidão. Eu tentei fazer um mundo novo pra você, mas eu acho que você o explodiu.
Eu vou caminhando para trás, tentando achar você em meu passado com a esperança que eu consiga trazê-la para o meu futuro. Eu deito em meus pesadelos, todos os dias, sonhando com lágrimas, dores, mortes. Quem sabe o que eu tenho? Problemas? Bastante. Amigos? Poucos. Raiva e solidão? Sempre.
Eu me deixo num dia de chuva qualquer, reclamando de minha vida como sempre fiz, esquecendo que já tem alguém que a faça feliz. Eu consigo escutar a nossa música tocando em todas as rádios, pedindo para você voltar.
Eu fui violento em te ignorar e te machucar por dentro, eu reconheço. Eu penso em me matar algum dia desses, para ver se alguém virá ao meu encontro dias depois. Eu penso em te conquistar, mas temo que isso seja impossível. Um grande amor impossível. Acho que é meio tarde demais para reclamar.
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