quinta-feira, 21 de julho de 2011

Apenas Uma Lágrima

"Have you heard the news that you're dead?
No one ever had much nice to say
I think they never liked you anyway" (My Chemical Romance - Dead!)



Se eu te dissesse que há tempos atrás eu sorri pela primeira vez, você acreditaria? Se eu te dissesse que há tempos atrás eu tinha parado de acreditar que eu estava perdido, e que eu tinha uma vida pela frente como você e todas as pessoas ao meu redor diziam?

E agora, onde estou? Num lugar acolchoado, dentro de um caixão, sem poder te dizer adeus ou alguma coisa parecida. Eu queimo como um fósforo, sendo incinerado pelo álcool da dor, sendo derretido sozinho sem ter uma lágrima para amenizar a dor.

E eu, que fiz tanta coisa errada, é esse meu preço? Um lugar muito quente, que as chamas vão me engolindo aos poucos, sabendo que ninguém veio me visitar no meu velório, que ninguém se importa com mais um pobre destruído.

Eu queria apenas ser feliz, me redimir dos meus problemas, mesmo achando eles irreparáveis. Eu não queria ter que morrer com uns tiros no peito, com uma dor assolando minha alma com um pequeno silêncio. Confie em mim, eu poderia ser melhor se eu pudesse.

Eu só peço pra você não me encontrar, por que aqui é péssimo. As árvores estão mortas, as folhas caem no chão, só há chamas e cacos nele, onde você se queima, se machuca, se mata. Só que você não pode morrer pois você está morto.

Este é um tipo de preço que eu tenho que ter por roubar corações e destruí-los em milhões de migalhas. É por ter dito milhares de palavras que pareceram espadas que valeram centenas de gargantas, só pra livrar a minha.

Eu grito, eu choro, eu imploro de dor. Mas quem vai me salvar agora? Quem vai me tirar do inferno? Ninguém. Ninguém se importa com mais um traficante, com mais um bandido que morreu. Apenas ecoa minha voz neste lugar escuro.

Todo mundo vê as notícias da televisão que eu morri. Um traficante foi morto na fuga, e quem se importa? Estão livrando o mundo do lixo da sociedade, das pessoas culpadas pela maldade deste mundo. Mas sabe por que eu sou um traficante?

Por que eu não tinha de que sobreviver. A porra do governo aumentava os impostos, retirava todos os dias a grana toda da minha comunidade, da minha vida. Eles chegavam lá, matam quem querem, quando querem e depois vão embora.

E eu ia ficar calado? Como todo o resto da minha família, dos meus conhecidos? Eu não sou do tipo que leva desaforo pra casa. Eu comecei a roubar, depois conheci a droga. Não a usei, mas eu tinha meu jeito de vender.

Fiz uns cinquenta caras usarem e me derem grana. Eu ficava feliz e muitas vezes eu distribuía para minha família. Eu virei o dono daquela comunidade. Controlava quem entrava e quem saía. Estávamos em paz com as drogas nos controlando.

Aí eles vieram com fuzis. Atirando e mandando todo mundo pro chão. Aí começou a guerra, era viver ou morrer. Mataram meus amigos, mataram meus companheiros, mataram minha família. Eu me rendi, mas nem deram chance de eu respirar.

Eu já estava morto. No outro dia, dizia no jornal que expulsaram os traficantes e que deram a paz para aquela comunidade. Eu imaginava os rostos dos conhecidos, todos eles sem luz, sem um sorriso. Apenas uma lágrima.



*História Meramente Fictícia

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