Todo dia após o jantar
Me deixa cantar (não só no chuveiro)
Pra quem quiser escutar
Me deixa sonhar... (talvez eu possa te dizer o quanto
eu posso ser de verdade) " (2ois - Olá, Eu Sou Um Fantasma)
Hoje é um dia de chuva. Não aquelas onde derrubam casas, onde as águas chegam ao seu pescoço e você realmente já não sabe o que fazer. É simplesmente aquele dia que mesmo que você está sem guarda-chuva, você chega em casa com alguns pingos nos ombros e o cabelo molhado. E antes que você me questione, sim foi uma metáfora sobre minha vida. Está ruim, mas não está péssimo. Está confuso, mas não o suficiente pra me enlouquecer. Está difícil, mas nada que uns "reset" resolva. Eu estou cada vez mais sozinho, mais triste, mas mais forte. Eu estou aprendendo a carregar minha cruz, eu estou conseguindo caminhar em meus passos e estou ainda na procura do meu foco da minha vida. Mas aqui estou.
Enfim, essa carta eu escrevo para dizer todas as atualizações de minha vida depois de um tempo. Quando eu era criança, achava que o mundo era menos perigoso. Achava que eu podia realmente pegar algum ônibus e ir pra qualquer lugar em qualquer horário, e que ninguém tinha segundas intenções ao me ver vagando por aí. Nunca estive tão errado. Para começar, esse negócio de ir em qualquer horário não existe, existem apenas horários específicos para o ônibus sair de uma rodoviária. Segundo, para chegar em alguns lugares tem toda uma burocracia, e isso geralmente só me estressa. Não somos livres. Somos livres apenas pra acreditar que somos livres.
E então. Eu cresci. O tempo realmente passou muito rápido, não consegui acompanhar, fui simplesmente na onda. Eu não queria uma posição de destaque, eu não almejava ser o cara que todos se preocupavam. Eu queria ser apenas um qualquer, alguém que sabia a direção de casa. Mas eu nunca soube o caminho de casa. O tempo me ensinou que o caminho que eu sigo sempre é pra algum lugar, mas o lar doce lar continua longe de mim. Meus passos me ensinam a dançar no ritmo da solidão, condenado a lutar sempre com um violão com cordas enferrujadas e minha garganta amarrada em dores adversas. E o inverno vai me dando hipotermia, quem diria, logo eu que gostava de frio.
E em todo esse tempo, acabei me tornando um alguém que observa as dores. Consegue ver as feridas, não citando-as, mas reparando a lágrima seca perdida no olhar das pessoas. Eu pude ser várias vezes o confiável, o responsável, o legal, o gente boa, o "brother", o irmão, o cara que te ouve, enfim, todos esses adjetivos, todas essas palavras, todas elas vão acabar indo no meu lixo. Porque no fim de tudo, quando der meia-noite e todos acabarem indo deitar, eu vou acabar sangrando na minha cama sozinho. Mas não é como se eu fosse morrer por isso, essa hemorragia dura há anos, e bom, eu ainda estou aqui escrevendo, não é mesmo?
Mudei muito durante todos esses anos. Meu rosto acabou mudando, meus cabelos estão sendo cortados de outra forma, deixei a barba crescer, as roupas acabaram encurtando e o jeito delas também estão sendo compradas de outras formas. Eu aprendi tantas coisas através apenas do meu silêncio ao ouvir a voz alta das pessoas alcançarem o volume do som ruim da caixa de som. O que as pessoas queriam, o que as pessoas almejavam, o que elas sabiam sobre determinado assunto, tudo isso eu fui guardando e selecionando como se fossem conchas em um vasto campo de areia.
Talvez se eu não fosse tão inseguro, talvez se eu não fosse tão pensativo e fosse um pouco mais forte, se eu fosse alguém com uns defeitos diferentes do que eu tenho agora, as coisas mudassem e eu encontrasse a fina linha por onde eu devo caminhar. Talvez, talvez eu pudesse ser alguém que eu gostasse quando eu olhasse no espelho. Droga, eu acabei desanimando antes mesmo que eu pudesse notar. Eu queria tentar fazer um texto onde as pessoas pudessem ver a minha face de "está tudo bem". Bom, acabaram de me desmacarar só de rolar a página abaixo.
Mas eu ainda deito antes da meia-noite, pra eu poder digitar tudo o que eu penso, tudo o que de fato o que sinto e bom, o que sinto atualmente, é que eu queria alcançar as estrelas esta noite. Poder voar distante e alcançar os cosmos e universos e ver as explosões de cores que se pode ter lá, e poder acreditar que as luzes do céu poderão iluminar esse mundo que anda num estado crítico. Diga a eles que eu sou um fantasma, e se você pode me ver, tenta fechar os olhos e ver se não é algum sonho seu.
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