4 da manhã. As luzes da cidade cantam para que em algumas horas o sol dê as caras. Histórias sobre como foram os bravos guerreiros em sua aventura em caminhar pelas ruas escuras após a festa. Estávamos todos amarrados, estávamos todos quebrados, eu tenho que te dizer isso para que não pense que a gente tem a vida mais incrível do mundo. Eu lembro bem, meu melhor amigo tinha perdido o pai, minha namorada visitava sua mãe todos os dias no hospital por causa do câncer, e o resto estava com o coração emendado com farpas. E a gente andou por muito tempo por tantos lugares que eu nem lembro direito, estávamos apenas brincando, Cristo, por que tantas perguntas?
A gente bebeu demais, bebemos tanto para esquecer os problemas, que esquecemos as soluções também. Bom, nada importava, tudo o que a gente queria era apenas... a gente. Nos deixamos ser possuidos pelo sentimento de "distante-do-mundo" e criado um nosso. Um mundo onde só os membros poderiam entrar, como se fosse algum tipo de clube incrivelmente secreto ou algo assim. Mas na verdade aquilo era apenas nossa fábrica, onde a gente se consertava. Aquelas canções tocadas no violão eram as músicas-tema de nossas vidas. Aquilo era nosso. Tudo era nosso. Tudo era a gente.
Oh, Deus, eu posso jurar que eu queria parar o tempo. Eu adorava aquilo, adorava abraçar eles, adorava tudo o que eu via naquela madrugada. As piadas eram mais engraçadas do que costumavam ser, e quando a melancolia batia, eu suportava. Eu suportava porque não estava sozinho. Ela não era espantada, mas também não era "persona non grata", a gente simplesmente sabia como lidar com ela. Como é mesmo aquela coisa que bate quando você sente acolhida, um calor gostoso, e prazer em estar em determinado lugar? Ah é, alguma coisa com "amor".
E eu estava com ela. Eu até dancei no meio da rua com ela, e ela simplesmente riu daquilo e me acompanhou. Mesmo que passassem os carros, mesmo que os postes iluminassem bem a gente fazendo aquela coisa ridícula, ninguém se importava. Nossos amigos nos acompanharam, alguns fizeram pares e dançaram também, outros cantavam "Wonderful Tonight" imitando Eric Clapton no microfone como se fossem uma banda, fazendo que fôssemos um bando de loucos felizes. Ela disse "eu te amo" e me beijou, e eu correspondi. Foi naquela noite a última vez que eu a vi sorrir. Foi a última vez que aqueles olhos verdes foram meus.
E de repente, tudo desandou. Os planos que passei tanto tempo planejando se tornaram de outros. Primeiro, as brigas começaram. O mundo começou a implodir, amigos brigando uns com os outros, mentiras, desconfiança, raiva. E assim, vagarosamente, foi diminuindo o número de pessoas que caminhavam juntas depois da aula. Antes, éramos um time de futebol. Depois, um de handball. E depois, quando eu vi, já estávamos iguais aos três mosqueteiros. Nunca vi uma dissolução tão rápida em minha vida, nem percebi quando as coisas estavam ruins. Eu me arrependo de não ter feito algo quando eu podia.
O tempo passou. Com isso, chegou a faculdade, os trabalhos, e outras responsabilidades. O tempo para a gente se encontrar diminuiu muito. Os assuntos que a gente costumava inventar em questão de segundos, foram tomados pelo silêncio. A gente não conseguia mais conversar, e as conversas restantes eram tão superficiais e banais, como se fôssemos um bando de estranhos escolhidos aleatoriamente para estar juntos, eu deixei de reconhecer eles. Sem querer, eu os perdi pro mundo. E eu jurava que a gente não ia perder, até chegar os 45 do segundo tempo e tomar um chute da vida. Droga. Droga. Droga.
Depois, quem foi embora foi ela. As brigas que eram a cada um ano, se tornaram em meses, e de meses, semanas. O amor nunca morreu, porque eu costumo dizer que o que a gente tinha era de um "amor zumbi". Mas ela não suportava mais, e eu fazia o máximo para não chegar em casa mais cedo. Queria permanecer longe dela o quanto eu pudesse, constantemente desligando o celular e demorando pra responder as mensagens. E ela, ah, ela fez o possível para salvar a gente. Teve uma hora que ela desistiu. Ela veio até em casa. Disse "oi" para meus pais de forma mais natural possível, e me abraçou chorando. Disse a palavra "desculpa" umas dez vezes, e depois um "adeus". A porta ficou aberta até ás 3 da manhã aquele dia.
E por fim, quem foi embora de mim foi eu. Eu perdi a vontade de fazer as coisas, eu perdi os momentos de felicidade e as coisas como elas são. Eu deixei tanta coisa para trás, e quando as pessoas mais importantes da minha vida foram embora, eu deixei tanta coisa para frente também. Os retratos estão empoeirados, as canções eu costumo cantar pra me lembrar. O que eu posso fazer? Digo, eu não tenho muita escolha. Eu só posso seguir adiante. Eu só posso tentar de novo e de novo, porque se eu não fizer isso, ninguém vai. Eu só não posso fazer isso agora, me desculpe, tente outra hora. Eu sinto saudade, caras. Muita.
****Esse texto não é verídico, porém, me baseei muito nos meus amigos. :/
sábado, 16 de maio de 2015
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