sexta-feira, 1 de maio de 2015

Sinto Muito

"Eu procurei
Jurei que não iria mais falar de mim
E o que eu achei
Que eu tinha tanta história pra contar" (Fresno - Relato De Um Homem De Bom Coração)



É, eu jurei que nunca mais iria fazer textos depressivos e tal, mas acabei mudando de ideia. Achei que a ideia de não poder dizer exatamente o que eu queria dizer era uma algo forçado demais. Vez ou outra eu acabarei desabafando por aqui mesmo, pelo simples fato que minha cruz é zoada demais para eu carregar sem gritar. Bom, vamos lá. Eu nunca me vi de tal forma, eu juro. Eu nunca me vi como se eu precisasse de ajuda, quer dizer, eu nunca dei muita moral para mim mesmo e meu ego, sempre priorizei a dor alheia e de como as feridas dos outros estavam abertas. E é nessas horas, que essas malditas feridas gostam de duplicar o tamanho.


De alguma forma, acabei criando um campo de força, uma maneira de eu caminhar sem eu estar sendo açoitado com palavras e atitudes, eu carinhosamente chamo isso de "piloto automático". É a maneira que consigo acordar, trabalhar, estudar, conversar, e ainda digitar coisas para os meus amigos sem mesmo pensar de maneira concreta. Faz muito tempo que eu não sei o que é "deixar no manual", me levar, sem ter medo de alguém me ferrar. Acho que perdi minha capacidade de acreditar nas pessoas por completo, a ponto de deixar meu coração aberto. Acredito que nem mesmo meus pais adentraram neste campo. Não é como se eu me importasse também. Tá ótimo assim. Tudo tá bem.


Tá bem o caralho. O caminho que eu escolhi é ruim, esquisito e sem trilhas certas. Meus passos estão em uma corda bamba, e parece que logo vou perder o equilíbrio. "Eu preciso correr, desculpa", foi o que todos disseram antes de sair daqui. E eu não acompanhei, digo, nunca acompanhei. Sempre vi esse negócio de apressar as coisas de modo ruim, como se não pudesse ser aproveitado as coisas de maneira correta. Apesar de eu ser um pouco afobado, acabo sempre cedendo à música melancólica e a solidão, e vejo as pessoas no horizonte me acenando ao longe. A beleza da vida é quando você sabe o que é sentir algo, mesmo estando incompleto.


Eu senti. Muitas vezes, foi o que eu disse para mim mesmo. "Sinto muito". A pena que tenho de mim mesmo é extraordinariamente grande. É esquisita a sensação que tenho dentro de mim, como se eu tivesse duas partes de mim mesmo, nos quais intercalam minhas atitudes. Talvez seja essas as partes que dividem o controle de mim, "automática" e "manual". Provavelmente a parte automática seja mais forte, por isso sempre suporta as dores que eu tenho e consegue fazer piadinhas ruins mesmo sabendo que são só para disfarçar a raiva e a melancolia que tem por dentro de si mesmo. É frio, mas acho que dá para aguentar, não é como se o frio fosse a pior coisa que já enfrentei.


Eu tive muitas oportunidades de ter o meu mundo na minha mão, mas deixei para lá. Ele se tornou tão descartável, tão inóspito que eu sempre deixei nas mãos do cara que faz tudo no automático, parece que ele é a pessoa mais confiável para deixar a administração do meu coração. Sei lá, coisas como gostar das pessoas, se envolver com outras, não parece algo que eu posso deixar acontecer dentro de minha parte frágil. Não mais. Chega de deixar as coisas acabarem comigo de qualquer jeito, sem nem mesmo um pingo de misericórdia. Ninguém vai mais entrar no meu campo de força, ninguém mais vai ter liberdade em mim mesmo.


Nunca pensei que meus textos faltariam palavras para expressar exatamente como me sinto. Talvez seja isso que é crescer. Talvez seja isso que disseram que seria a vida quando você era moleque, você se torna meramente um nada com alguns órgãos e pele com a habilidade de falar. Eu nunca quis que as coisas fossem assim, mas o que posso fazer, me diz? Desculpa. Mas meus sorrisos já não sabem mais como ser sinceros, meus olhares perderam a habilidade de derramar lágrimas e meus braços perderam a mania de carregar a dor. O mundo não pertence mais ao meu mundo. E as pessoas não pertencem a mim mesmo. Eu não vivo mais por mim. Eu não vivo mais.

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