terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Diários Estranhos de Lita #1





Por um acaso, encontro esses papéis atirados na esquina da minha casa. Reparei eles quando estava de partida, não aguentei o fato do meu pai infestar a casa com aquela bomba de fumaça que ele chama de cigarro. E não sei exatamente o motivo, mas eu acabei parando tudo o que eu estava fazendo para escrever nesses papéis. Se alguém um dia encontrar esses papéis, provavelmente estarei bem perdida neste mundo sem sentido. Ah, prazer, eu me chamo Lita. Minha mãe provavelmente vai chegar tarde de novo, não aguento mais saber desse maldito trabalho dela.


Bom, resolvo dar umas voltas pelas ruas dessa cidade. Eu me sinto à vontade sem vontade de fazer nada, não precisar de prestar atenção em minha volta, considerando que eu me sinto presa numa sala de espelhos todos os dias. Claro, tudo o que eu faço reflete, e todas as pessoas que me olham são espelhos que me julgam e me transformam da forma que mais os agrada. Não é como se eu me importasse na real, afinal, a única de verdade aqui sou eu. Sim, sou como a verdade, difícil de lidar. E pare de achar que eu me importo com o que você vai pensar desse texto, se vai pensar que sou uma coitadinha, por que eu não preciso disso. Eu tenho meus problemas, e eu sei resolvê-los, mas eu estou muito ocupada observando pra pensar sobre isso.


O ensino médio foi bom pra mim. Conheci alguns carinhas, namorei com outros, até mesmo transei com uns. As amigas para sempre de três anos, foram tão vazias que eu nem me lembro direito da aparência delas, e se elas me vissem como eu estou hoje, não me reconheceriam também. Foi bom regredir para o lugar que eu chama de solidão, e começar a chamá-lo "lugar bom para não fazer nada e observar os erros alheios". Um dia um velho me disse que "se você não fizer nada, nada mudará também". Concordo com isso. E admiro também. Talvez o fato de eu não me importar com as coisas, me fez tão fria assim.


Mas acreditem, eu já me apaixonei. Eu já senti o meu coração bater, e acreditei que ele fosse feito de carne. E cara, eu também me ferrei por causa disso. Mentiras, traições, perversões, já passei por tanta coisa que meus dedos se perdem na conta. Agora deixo marcado aqui o que eu penso sobre o amor: "O amor é uma bosta com perfume". Se vocês vierem me encher o saco como uma menina pode falar palavrões desse jeito, sumam, tenho mais o que fazer. Pra vocês que forem ler, mas não conseguiram entender, vou explicar. Sim, sou boazinha. O amor de alguma forma nos atrai, como se fosse um perfume caro e bom, mas quando você chega perto, você cai de cara aonde exatamente o verdadeiro amor está.


Senhoras e senhores, lhes apresento o que acontece ao se apaixonar. Você se envolve, você discute, briga, volta a se envolver, e assim torna-se um ciclo vicioso. E para mim isso é muito trabalhoso. Há muito tempo atrás eu sentenciei a mim mesma o fato de que não devo me apaixonar, considerando que meus sentimentos e pensamentos são tão claros como a água suja. Não é como se eu estivesse fugindo disso, eu apenas eu estou tendo alguma coisa melhor pra fazer. Eu caminho por essas praças cheias de gente que tem, principalmente no verão. Me lembro o quão é esquisito isso, de ir apenas no verão. Eu sei, por que eu sou a única que passa por lá no inverno. Quer dizer, eu e aqueles maconheiros que não páram de dar em cima de mim.


Não sou uma garota atraente, não sou popular, eu sinto que só sou diferente de todas essas garotinhas que aparecem na minha frente. Cara, isso me irrita. Esse negócio de pensar sobre o futuro, de pensar qual dos rapazes parece mais confiável, para mim isso é tedioso. Talvez eu pense um pouco como um garoto. Não. Acho que não. Se eu fosse um, provavelmente estaria me drogando e pensando como minha vida é um lixo. Eu só penso que os caras ultimamente estão todos iguais porque as garotas não fazem questão de serem diferentes. Não é que eu tenha abandonado aquelas coisas de menininha, "sentimentos,coisas fofas, romances", mas é que eu só to com muita preguiça disso.


Ah, tá quase na hora de dormir. Deixei a janela aberta, vamos ver o que acontece. Então, as garotas deixam para quando seus namorados apareçam depois, bom, eu deixo para ver o que acontece. Sério. Eu gosto do perigo, acho que ele seria o namorado perfeito para mim. Ele se arrisca, ele é insano, e bom, não parece tão diferente de mim assim. Vamos deixar a janela aberta, vamos ver o que acontece. E para vocês que lerem isso, pensem nisso. Deixem de vez em quando tudo aberto, deixe o caos tomar conta. É legal. Eu juro.

0 comentários:

.