terça-feira, 5 de agosto de 2014

Anjos Suicidas

"I'm such a lucky man, I try to be a stronger man
I shed a tear or two but that don't make me a weaker man
It's made me a better man, I've given all I can
To a world that sometimes thinks that I'm a lesser man" (Lynyrd Skynyrd - Lucky Man)




Acho que a brisa fria do inverno meio que me deixa feliz. Parece que ele vem na medida certa, se tenho um mau dia, ele simplesmente vem com uma rajada como limpassem todas as cicatrizes que carrego no peito. Porém, é temporário. Logo voltam, como algo invencível. No entanto, se eu tenho um dia bom, ele vem apenas com uma leve força, o suficiente só para ser lembrado. E eu me afundo na noite, como se eu me cobrisse com ela. As estrelas costumam ser meu abajur, para eu saber que existe luz até mesmo no lugar mais escuro da galáxia.


Fazia um bom tempo que eu não escrevia meus textos nessas paredes. Bom, acontece que eu precisava dela limpa para parecer que eu sou organizado. Foi uma grande piada, mas eu tento. De verdade. E agora atiro vários tiros rápidos de suspiros, ver se alguma coisa, melhor, se consigo ver alguma coisa. Minha vida tem sido um caos. Não que eu não goste de caos, é que às vezes eu tenho que achar meus próprios cadarços, e geralmente eles estão amarrados com cinco nós. Acho que se ela não estivesse por aqui pra pelo menos tirar o pó, eu provavelmente teria me afundado nessa loucura.


Lentamente calço meus tênis, tipicamente desgastados, penso se ainda devo levantar. Por alguns segundos, passa a minha vida toda em minha cabeça, reviro os olhos, malditas expectativas. Outros cálculos complicados, outras frases de um contexto todo igual. E os céus aparentam querer cair esta noite, maldição, eu esqueci meu guarda-chuva feito de chamas. Acabo tomando um grande banho, não que eu não esteja acostumado. Cadê meus suprimentos, precisava daquela melodia que eu costumo ligar, aquele sorriso geralmente costuma funcionar, porém, meu celular resolve apagar.


O peito infla como se estivesse colocado uma bomba de encher balões, eu vou explodir, e não vai demorar muito. Se acontecer de eu explodir e ela não saber, diga a ela que eu sorri pois lembrei dela. Diga a ela que eu cantei aquela canção que ela adora, e que estava chegando a minha hora. Conte tudo, conte que desde o momento que eu comecei a inflar, falei sobre como ela era, que ela tinha os olhos verdes mais hipnotizantes do mundo, que o humor confuso dela confundia minha cabeça, e que eu amo ela. Bom, diga a ela basicamente que eu explodi como um balão, mas um balão de tanta felicidade, pois encontrou a guria que tem a chave do peito dele, que já estava muito enferrujado.


Pareço um grande bobão que meio que ama muito. Acho que eu nunca deixei de ser assim, mas parando pra pensar eu gostaria dar um grande soco na minha cara. Eu não sirvo pra essas coisas de viver, e muito menos pra relacionar. Ainda não sei como ela me atura até agora. E lembro de repente das pessoas que eu conheci, das histórias que vivi, das pessoas que simplesmente resolveram desaparecer em meio à tempestade de areia, começo a rir alto neste apartamento vazio. Maldição, acabo de descobrir que quando dizem que só restam apenas lembranças é verdade. Posso conviver com isso.


Estou satisfeito como as coisas foram levadas uma à outra. Eu nunca rezei para Deus sem dizer coisas sinceras, eu nunca atirei coisas nas paredes se não estivesse realmente com a fúria de um espírito vingativo, eu sou pedaços de carne tentando atrapalhadamente tentando caminhar adiante. Acho que eu nunca pensei que fosse chegar tão longe perante ao mundo. Estou tentando tudo que eu posso, eu juro. E pensar que as horas enlouqueceram e os anjos que me protegeram desde quando eu nasci, cometeram suicídio. Eu lembro o que um deles me disse antes de morrer: "Garoto, seja apenas mais um no mundo. Mas seja o único no seu".


Não que eu seja muita coisa, mas eu não estou morto como muitos pensam. Quer dizer, muitos desajariam que eu estivesse, mas não é como se eu me importasse com isso. Com um terço na mão e uma faca em outro, assassino toda e qualquer alma que tente me ferir. Legítima defesa, talvez. Mas ainda sou tão bondoso, a ponto de orar depois matar elas, pedindo para ser iluminados nos céus ou no inferno, seja lá qual for o destino deles. Bom, voltemos a programação normal. Talvez seja um zumbi maldito que levou tantos tiros, mas continua a andar, continua a ter seu cérebro infestado de coisas loucas. Talvez eu só seja um alguém que seja o que ele acredita. Talvez eu só seja eu. É, talvez.

0 comentários:

.