sexta-feira, 31 de maio de 2013

Trágica Comédia

 "I used to be a little boy
 So old in my shoes
 And what I choose is my choice
 What's a boy supposed to do?" (The Smashing Pumpkins - Disarm)



Tenho estado meio entorpecido com as coisas que acontecem ao meu redor. Parece que mundos estão se colidindo, e eu aqui apenas observando ao horizonte, parece que histórias vão se concretizando, e eu aqui não conseguindo seguir adiante. Como sou capaz de não sentir, de não pensar e simplesmente estar sendo guiado pelas coisas que eu sei que não dão certo? Como sou capaz de enganar-me e pensar que alguém no mundo se importa com as palavras que eu coloco neste blog? Não consigo mais pensar em nada, nem sorrisos, lágrimas, apenas eu e uma espada cravada no peito.


Fecho os olhos e imagino-me num jardim, coberto de gramado verde e seco, com um banco e uma casinha de cachorro na lateral direita. E vejo-me, sentado numa cadeira perto da escadaria que leva a minha casa, a casa dos meus sonhos. Tem alguém em casa? Tem alguém me esperando para fazer o almoço, e se existe alguém colocando os pratos na mesa? A solidão me espera. O violão está jogado num canto cheio de terra, que sobrepõe-se no violão,fazendo que ele fique sujo e com cordas enferrujadas. Do lado existe uma pá, aparentemente eu queria cavar um buraco para enterrar algo. Me aproximo e vejo o que está enterrado, sim, é apenas meu sorriso.


Faço de conta que não vi, e finjo não estar aqui. É um lugar que não combina com meu estilo, parece um lugar bonito para um ânimo desagradável e chato. Pego o violão, com as cordas enferrujadas e sujo, e as cordas parecem cortar cada vez toco um acorde, mas insisto. E canto. Canto até minhas cordas vocais arrebentarem, toco até meus dedos sangrarem, grito para o mundo que eu existo, que eu estou aqui tentando sobreviver, apesar de tanta hipocrisia. Apesar de ninguém estar ouvindo, continuo insistindo. Farei alguém ouvir mesmo que seja alguém do espaço.


Parece carência e necessidade de atenção, mas é muito mais que isso. É saudades de respirar sem suspirar logo após, é vontade de dar risadas sem chorar ao lembrar de algo ruim, é abraçar alguém sem olhar desconfiado se ele vai te apunhalar, é confiar. O frio, de repente, atravessa o jardim. O céu azul ficara nublado, e quem está ao meu lado, perguntando se preciso de um abrigo? O vento forte leva tudo que é leve, e alguém me pergunta se eu sou pesado? Não. Abro a porta de casa, crio coragem e vejo se existe alguém lá. Também não.


Suspiro, encontro algumas chaves e tranco a porta. Não há nada o que fazer lá fora, quem se importa. A chuva vem cedo, assim como muita gente se foi. Procuro algum livro para ler, mas parece que o que me resta mesmo é escrever. Imagino se os meus amigos encontraram os tão sonhados abraços para se esconder, os beijos que os faziam tremer, as garotas que eles planejavam tanto guardar para si. Imagino se eles conseguiram o que queriam ao pensar no que seria há alguns anos atrás. Porque eu só me transformei no que eu nunca quis. Sem abraços calorosos, sem recepções ou beijos ou alguém para guardar para si.


Pareço um velho dramático prestes a colocar uma comédia trágica no papel. Porque minha vida é uma comédia que se chora, afinal a piada sou eu e as coisas que acontecem parecem trágicas. Não me sinto confortável ao pensar um pouco em como anda as coisas, não me sinto no papel de imaginar de como seria se eu tivesse feito de outra maneira. Bom, a frase deveria terminar no "não me sinto", afinal não consigo mais sentir as sensações loucas que eu tive, as paixões que enlouqueciam meu coração, as poesias e músicas para o amor em vão.


Deito na cama, ensaio falas que eu queria dizer para as pessoas, como se fosse possível elas me enxergarem como sou, verem que eu também me ofendo, que eu morro quando vejo meu nome sendo pronunciado após uma difamação. Maldita voz, como não consegues falar palavras quando alguém te espanca no emocional? Como não consegue dizer nada que me defenda, não consegue fazer algo para que o agressor se surpreenda? Me sinto um lixo. Não te culpo, solidão é meio que fazer as coisas da maneira errada e para se sentir melhor às vezes dá pra falar sozinho.


Se eu apenas escutasse música o dia todo, esquecesse o mundo todo, perdesse minha respiração pouco a pouco, acho que seria a melhor maneira de me abandonar. Deixar as horas passar, como se tivessem dançando, e deixar as lágrimas escorrerem, como se elas estivessem se amando, apenas seguir sem olhar para trás. Que meu coração pare quando eu pensar que a vida é apenas um quebra-cabeça. Eu só quero que alguém se lembre de mim, antes que eu mesmo me esqueça, e alguém leia para mim as palavras que eu joguei fora. Eu só quero um alguém, pra mim, aqui, agora.

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