quinta-feira, 9 de maio de 2013

Sou Só o Dublê

"I wanna free fall out into nothin'
Oh, I'm gonna leave this world for a while
Now I'm free, free fallin', fallin'
Free Fallin', fallin' " (John Mayer - Free Fallin')



Hoje dormi demais. Talvez seja porque meu cérebro já se desgastou muito vivendo a realidade. Maldito seja minhas lágrimas, resolveram ser compainha novamente. Embebedei-me delas, como se uma água gelada após um dia encalorado. Eu sou só um atrasado. Atrasado para vida, atrasado para histórias, atrasado para tudo. Talvez meu lugar seja no topo de uma montanha, onde ninguém me encontre, não seja procurado e não tenha preocupações. Pelo menos não sou atrasado,adiantado ou qualquer coisa de tempo. Eu serei o tempo que vier para mim.


Vejo a lua no topo do céu, coberta do véu de estrelas. Sorrio, minto para mim mesmo, digo que estou bem, mas não estou. É como se meu ar estivesse sendo retirado pouco a pouco. Usurpo-me, crucifico-me, não sigo mais linhas tortas, ou retas. Eu sigo o vazio do mundo, o vazio das minhas dores, eu marco minhas mãos com letras aleatórias. Marque minhas memórias, acolha-me, talvez você me entenda. Ou talvez você só marque meu peito como tantos outros, que fizeram questão de deixar uma cicatriz. Quem sabe de quem estou falando, se nem eu mesmo sei.


A esperança é desesperançosa, basta de tentativas falhas de salvar o mundo. Se não consigo salvar o meu, que dirá os dos outros, cheio de falhas. Cancele o pedido de alguém para ter uma vida, não tenho capital para pagar. "Capital", com seus detalhes estúpidos de atenção,carinho,dependência e ouvidos abertos para ouvir as coisas que acontecem ao redor dessa pessoa. Basta! Vou matar mais uma vez meu ego, construir um muro tão grande que de lá eu me jogarei, mudarei de novo meus rumos.


Talvez eu seja o objeto que não pertence. Talvez eu não saiba mesmo pra onde eu devo ir, pra onde eu devo depositar o resto de mim. Outra noite, outra lágrima. Canto até minha garganta sangrar, devo fazer isso até essa dor parar, não consigo pensar em outra coisa além de se livrar desse aperto maldito que parece queimar meu peito. Lentamente vou sendo lento, cantarolando canções que invento aleatoriamente, alimentando meus textos melódicos com essa minha vida ridícula. Isso é ridículo.


Parece que todo mundo tem um motivo para seguir em frente, um motivo para se levar adiante, mas eu, eu me engasgo com o sentimento de falta, marco no calendário os dias que eu não preciso levantar. É meio cedo para se falar de tempo, mas parece que chove todo dia na minha vida vazia. E não preciso olhar duas vezes para eu perceber que o que era eu, não é mais. Eu não pertenço à mim. Pertenço a alguém patético, uma desfiguração no espelho que deveria ser consertado. Falha minha é dizer que eu algum dia fui alguém a se admirar.


Alguém pode me dar um conselho? Pode. Mas não os mesmos de sempre. Estou cansado de "calma, as coisas chegam na hora certa", "faça as coisas para não se arrepender de não ter feito depois" e "viva o momento". Deixe-me em paz, deixe-me longe desses conselhos estúpidos. Eu só preciso de paz, sinto saudade dela, quero deitar numa rede, esconder-me e só me encontrar três dias depois. Eu preciso ser auto-suficiente. Mas quem me dirá o que eu preciso? O que eu preciso? Tempo? Paz? Alegria? Talvez os três.


Tenho vergonha de mim mesmo. Tenho vergonha das minhas atitudes, faço de tudo para esconder meu rosto para que este não seja lembrado. Pois eu faço tudo errado. Não importa o que eu faça, sou fadado a fazer as atitudes mais ridículas que um ser humano pode fazer. Um dia imaginei querer alguém para me consertar, arrumar essas minhas idiotices, mas aparentemente meu pedido foi arrancado da parede. Sou só um substituto do personagem principal.


Sou a falha, o dublê, o figurante. Sou só um resto que para não ser jogado fora aparece nos dois últimos segundos do capítulo da série. Minhas aparições são breves, minhas preces são ilusões, e aparentemente já joguei centenas de corações fora. Alguém consegue me dizer se estou vivo ou se estou sendo apenas uma alma penada que nem para assustar as pessoas serve? Não consigo ficar satisfeito comigo mesmo. Jamais serei uma obra completa, afinal, isso explica eu ser uma falha.


Tome, pegue meu coração e atire no mar. Talvez possa servir de isca para os peixes pelo menos, e isso pode evitar tantos problemas para mim. Adeus vida, adeus solidão, será eu, pescando e usando como isca meu coração.

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