quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Bela Mentira.

"Quando o sol bater
Na janela do teu quarto,
Lembra e vê
Que o caminho é um só" (Legião Urbana - Quando o Sol Bater na Janela do teu Quarto)



As cortinas daquele palácio que eu inventei parece estar cheio de mofo, riscadas pelas canetas que nunca tiveram tanta tinta que eu queria usar. Mesmo eu tendo criado um paraíso para os que vêem de longe, é tão chato pra mim ficar sentado nesse banco frio. Estou sozinho, e o frio me consola da tristeza que o sol e a lua me deixaram.


Um dia, eu amei o sol. Dei canções refrescantes, dei sorrisos brilhantes e corpos quentes, e ele me dava o calor, deu brilhos pros dias de maré, e iluminação pros meus dias marcantes. Era um lindo amor recíproco de nós dois.


Mas, um dia, eu conheci a lua. Ela iluminou meus dias escuros, jogou fora meus tristes poemas, e quebrou o meu violão que só tocava acordes tristes. Também mostrou que não era apenas o Sol que podia esquentar, que uma fogueira e ela com um violão dava um calor forte e lindo, fazer um luau era a melhor mentira que se podia viver verdadeiramente.


O Sol começou a ficar com ciúmes excessivo. Seus brilhos estavam mais falsos, talvez tivessem sempre falsos,mas ele sabia disfarçar antes. Sua iluminação estava se escondendo através das nuvens, fechado seus olhos para mim.


Eu estava inconsolável. Não é por ser egoísta ou ser ganancioso, apenas preciso de um pouco de atenção às vezes. Ele queria apenas iluminar o mar, e conversar com ele calmamente enquanto o mar dançava com suas ondas. Meu nojo por aquela conversa que eles andavam tendo aumentava, e o Sol nem mais me olhava na cara. As cartas que eu escrevia ele não recebia, eu mandava pelo mar, mas parece que ele não lia. Talvez não quisesse mais saber de mim.


E a Lua, tadinha, esteve sempre comigo. As minhas noites só me deixavam melhor por causa dela. Ela me fazia esquecer das mágoas que o Sol marcava todas as manhãs e tardes no meu peito. Ela me fazia viver o restinho de dia que tinha. Eu morria manhã e tarde, e vivia madrugada e noite.


Uma madrugada qualquer, uma data qualquer para uns, mas um beijo selou aquele dia. Inconscientemente ou conscientemente, eu senti os lábios leves da Lua. Ela parecia tão feliz por receber um beijo de um homem,não, um menino sem escrúpulos como eu. Eu sorri, mesmo sabendo que eu iria ser enterrado mais do que já fui pelo Sol.


Nunca fui de mentiras. Não consegui guardar o que se passou, e procurei ele e disse que meu coração já era dela há muito tempo, que as minhas canções já cansaram de ter o mesmo destinatário, sendo que ele nem as escuta, as minhas cartas eu parei de enviar, sendo que ele nem as lê.


Ele ficou irritado, me humilhou e ofendeu, disse que eu não valia um fraco raio dele, não merecia tudo que ele havia me dado. Eu o deixei com lágrimas nos olhos, e deitei no chão do meu quarto que só há sombra. Pensei em fechar os olhos e só acordar de noitinha.


Eram sete da noite quando eu acordei. Olhei pro céu, e a vi. Sorri e gritei o nome dela, ela respondeu alegremente. Disse à ela que o Sol me deixou, ela ficara mais feliz ainda. Disse que iríamos nos casar, que a gente iria inventar de novo a arte de amar. Ah, o garotinho acreditou. Ah, eu acreditei. Eu já nem ligava pras manhãs e tardes estarem chovendo, contanto que eu tivesse aquela minha querida Lua.


Foram apenas cinco meses que valeram a pena, os outros dezenove não sei se existiram. As gritarias dela, as minhas se contorciam junto. Toda noite eu deitava na escuridão da sala, enquanto ela se escondia nos edredons do "nosso" quarto.


Um dia, subitamente, ela pegou as malas e seus brilhos e sem me avisar, foi embora. Deixou no lugar aquela chuva maldita. Desde então, tenho ficado em casa recortando os jornais antigos que diziam que se pode amar sem limites. Bela mentira.

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