To feel these feeling
Like I do
And I blame you" (The Who - Behind Blue Eyes)
Eu tinha um péssimo hábito um tempo atrás, que às vezes tenho vergonha de lhe falar. Tinha o velho costume de esperar o tempo passar devagar, matar todos os meus medos de uma vez e abraçar a solidão. Hoje eu acordei pensando que eu me sinto vazio, talvez, até estou mais frio que antigamente.
Não consigo mais voltar às raízes, fingir que sou um garoto inocente e por detrás das cortinas um moleque inútil sem futuro. É, perdi meu futuro por aí. Eu queria ter um costume de ser o que você sempre quis, porém alguém já está aí.
Ah, eu também queria ter aproveitado melhor minha vida. Errado mais, feito mais cagadas, e perdido meu medo mais cedo. O medo de errar, maldito medo. Me sinto mal de lhe contar como me sinto hoje em dia. Talvez o melhor dia será quando eu não sair de casa e contribuir para a felicidade dos demais.
Queria falar coisas que as pessoas quisessem ouvir, queria não ter olhos pra não ter que ver as merdas que acontecem por aqui. Trocaria os palavrões dos textos para agradar o resto,enfim, seria um robô perfeito como tantos outros.
Afinal, somos apenas robôs nessa fábrica de falsidade que chamamos de cidade. Não posso falar muito mal, pois a cidade está indo pra frente. Porém, as pessoas, ainda são o que sempre foram. Conservadores estúpidos,mentirosos verdadeiros,ateístas sem fundamentos, erros certeiros, toda essa merda deveria ir pro espaço.
Ah, claro esqueci da minha classe: a dos idiotas. Essa não, essa deveria grudar no chão e aprender a viver a vida de um modo diferente ao invés de ser castigados pelos chicotes da sociedade. E a sua, deveria com certeza estar longe, pra não precisar eu me preocupar tanto.
O que construímos aqui nessa bosta, uns vilões mal-feitos e bonecas de pano rasgadas? O que diabos aconteceu com os super-heróis e as bonecas bonitas? Hoje em dia são caçados pelo conformismo e falsos sorrisos.
Não sou exceção, faço parte disso. Sou aquele boneco que não tem nada de especial e as pilhas estão fracas. Queria que alguém as trocasse pra mim fazendo o favor, já que elas estão tão mortas quanto minha vontade de viver.
Eu até que aguentei, não aguentei? Anos intermináveis de sofrimento e compaixão com as pessoas. Fui gentil até demais, construí castelos de mágoas e ninguém o viu, ninguém tentou enxergar. Consigo ver meu câncer no meio disso tudo.
Cadê meu reconhecimento de ser o maior desconhecido de todos? Cadê meu troféu de maior idiota do mundo? Sentir o vento bater no rosto e sentir-se solitário acho que é apenas eu que se sente assim. Não consigo me sentir libertado.
Se lembra das marcas que tem me deixado? Se lembra das dores que não param do arder? Eu lembro muito bem. Às vezes quero me deixar levar pela própria loucura, por que lá é mais legal do que ficar rodeado por olhares que não querem me ver e ouvidos que não querem me ouvir.
Essa fábrica de falsidade maldita, não posso descansar, não posso deixar essa barra cair. Por que eu já deixei uma vez e não foi legal, porém, minhas mãos estão suadas, e meus braços estão fracos, onde está a porra da sua razão pra me dar conselhos agora?
Chega de falar idiotices. Quer falar comigo sobre essa porra de mundo e o que tem de tão maldoso ao nosso redor? Beleza. Não quer escutar eu falando palavrões, xingando coisas que eu odeio, mas quer ouvir coisas que você quer que eu diga? Não fantasie por favor. Não sou mais o boneco idiota de antigamente, agora sou um pouco mais de gente.
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