"There are places I remember
All my life though some have changed
Some forever not for better
Some have gone and some remain" (The Beatles - In My Life)
Minhas palavras estão pintadas em branco. Meus sonhos ainda estão com aquela comum neblina à frente, assim como meus desejos, tão translúcidos quanto qualquer transparência de sombra, e um pouco de metáforas em minha vida para que eu possa enfeitar esses textos escondendo minha verdadeira face de dores que eu carrego por toda a minha vida. Ainda me lembro, um pouco vagamente, um pouco dormente, de minhas saudades, de meus amores, tão cheio de defeitos, tão doloridos, que eu amei verdadeiramente senti-los como tal, e amei verdadeiramente as dores infelizes que apesar de ter me matado quase mil vezes, as amei todas as mil vezes. Ainda me lembro, com um pouco de lágrimas em meus olhos, das coisas que vivi, dos mundos que um dia conheci, todos eles, todos eles, eu ainda me lembro, eu juro.
Existem dois tipos de mortos, os que estão enterrados e os que ainda respiram. O segundo grupo em questão, se questiona solitariamente sobre como deveria caminhar depois de tanto tempo nessa escuridão fria e vazia, depois de tanto tempo com a aceitação de que as coisas que dão errado continuarão dando errado, e como o caos que há dentro de seu peito continuará devastando tudo o que consegue visualizar pela frente, fazendo com que não sobre pedra sobre pedra naquele pedaço de mundo esquisito. Eles me diziam, que gostariam de se apaixonar pra variar, e que seria uma boa ideia que as coisas dessem certo pelo menos uma vez na vida. Eles prometiam vitórias, prometiam histórias, mas no olhar deles, eram todos impecavelmente destroçados. Eu nunca disse que eu ia voltar pra casa. Eles também não.
Muitos ainda sentem saudades de serem de verdade, outros ainda pensam o que é de fato a saudade, eu me questiono o que é sentir. É essa parte vaga minha que chamam de sentimentos? É esse buraco no meu peito que chamam de emoção? Agora me tranco numa dor eterna na qual um dia eu tinha tido uma redenção dela. Espero que algum deus me salve. Porque agora, o inferno me deu um abraço, e nele não existe o diabo, existe alguém pior, eu. Eu choro. Derramo lágrimas como se isso fosse de fato resolver alguma coisa, o barulho que ecoa do lado esquerdo é abafado pelo teclado sendo apertado rapidamente como se dissesse com desespero que precisa de ajuda. Socorro. Socorro. Socorro. O toque do celular não acontece mais. A música para. Eu prometi a Jesus que iria morrer aos 28. Ele não me ouviu. Eu também não.
Dizem os poetas que o amor não existe, ele é apenas criado para pessoas terem mais facilidade de criar suas redes de conhecidos. Os amigos que criei através de um suposto amor inventado, muitos deles ruíram como se fossem apenas uma muralha feita de areia, outros ainda resistiram, e outros ainda morreram dentro de mim. Eu não consigo mais ver uma pessoa naqueles olhos, eu não consigo mais ver se eles existem de verdade, ou se conseguiram a transformação de ser mais um de vários nesse ponto azul do céu. Muitos passaram por mim, amigos, farsantes, mentirosos, traidores, todos eles disseram algumas palavras fazendo com que minha cabeça aceitasse abaixada que o mundo é maravilhoso. Ele não é. Tudo o que eles queriam era uma oportunidade de me machucar, me ferir, passar uma faca no meu peito, que quase dizia que não tinha mais sangue pra derramar. Eram todos mentirosos.
Chove muito, e eu me perdi faz muito tempo. As palavras ecoam em minha mente, me destroem como se fossem grandes meteoros atingindo a minha cabeça, e eu perdendo o controle disso tudo. Me condeno de novo, e de novo, e de novo, perdendo a minha cabeça. Eu me lembro de tudo. Digo que minha mente é falha, digo que as memórias se apagam, mas nada se perde. Tudo se arquiva de ordem alfabética, tudo se guarda como se fossem grandes decepções de minha vida, e por incrível que pareça, eu não sinto saudade de nada disso. Eu não sinto saudade de meus antigos amigos, não sinto saudade dos momentos que vivi com eles, não sinto com saudade de minhas "preciosas memórias" que muitos costumam vangloriar e guardar. Tudo pra mim é pedra sobre pedra.
Você se pergunta, o motivo de eu estar digitando tudo isso nesse momento, por que não tomo atitudes? Porque o único motivo de eu estar vivo é que não quero a lágrima de pessoas que gostam de mim. Não é recíproco, é apenas que não gosto de incomodar, então costumo deixar à deriva quaisquer resquícios de mim mesmo entre essas vielas. Estamos todos condenados. Olho de novo pro céu, me questiono, quando isso tudo vai parar? É pra ser assim tão doloroso acordar todo dia? Eu não consigo mais suportar. Deus, se houvesse a chance de parar meu coração por alguns instantes, só pra eu ver se eu encontro você ou o diabo, e então, eu pudesse conter essa agonia, você pararia? É engraçado ao pensar que eu tenho mais curiosidade na morte que na vida.