Eram 8 horas da manhã e ele estava atrasado. Atrapalhado e tímido como sempre foi. Com seus 18 anos, não havia conseguido beijar ninguém. Olhou no relógio e logo percebeu que estava atrasado.
Tropeçou no lençol e vestiu o uniforme. Era uma calça social preta, uma camisa branca e uma gravata vermelha. Desceu as escadas, nem bebeu nada e também todo mundo riu dele. Inclusive ela. Aquela que conquistara seu coração no jardim de infância. No começo, achava que estava ficando louco. Mas depois percebeu que era louco mesmo, era por ela.
Ela e todas as meninas deviam estar pensando em algo como “Ele deve ser um tipo de aberração.” Depois de muito andar, chegou á escola e logo tropeçou numa pedra. Uma mão se ofereceu. Uma mão super macia e branca.
- Quer ajuda? – perguntou sorrindo –
Era ela. Com seus cabelos lisos loiros, com pequenas mexas pretos, seus olhos cor de mel e com aquele sorriso.
- Claro – disse ele gaguejando e todo atrapalhado –
- Por que você sempre foi assim? – disse segurando uma risada –
- Sei lá.
Despediram-se. Ele lamentou por não ter ficado na mesma sala. E com certeza iriam ficar bajulando ela. Passavam as horas que pareciam dias. Ele não parava de sonhar, de imaginar ela tocando seus lábios.
“Pff... foi apenas um sonho, um sonho impossível” pensou. Logo na hora do lanche, o diretor avisara que iria ter um baile. “Beleza, vou lá só pra curtir porque ninguém vai querer ir comigo mesmo” pensou.
A tarde passou tão rápido que ele nem percebeu. Ele tinha ficado a tarde inteira no computador. Foi tomar um banho e arranjou sua melhor roupa. Quando ele desceu, ficara tão arrumado a ponto de sua mãe derramar o bule.
Ele estava com uma camiseta branca por baixo e por cima uma camiseta laranja. Pegara uma corrente perdida que estava no seu criado-mudo e pegou uma calça jeans desleixada com uma corrente presa no bolso. Para usar nos pés, pegou um tênis azul e branco com detalhes vermelho. Saiu tranqüilo sabendo que não iria chegar atrasado.
Enquanto isso, ela ainda estava se preparando. Com seu par esperando com um carro lá embaixo, nem terminara ainda de tomar o banho. Estava a ponto de se atrasar. Pegara um baby look vermelho-sangue, uma calça meio curta e um tênis branco e com listras pretas. Agora ela quem estava atrasada. Passara um batom de cor leve e desceu.
Ele havia chegado pensando em beber, comer e ir embora. Ela, ao contrário, pensava em curtir muito a festa. Dançar até quebrar o salto e não conseguir levantar no outro dia. Ela estava muito feliz.
Ele a viu. Viu aquela deusa, o amor da sua vida. Dançando com um alguém qualquer, que nunca valorizou nenhuma mulher. Sentiu um aperto no coração, por não ser ele. Saíra para tomar um ar e foi naqueles lugares onde também dava pra dançar. Mas era um pouco menor, cabiam só uns casais.
Ficara pensando em tudo o que tentara, mesmo indiretamente, por ela. “Quer saber? To cansado de não ser notado, agora eu vou lá e extravasar” disse para si mesmo. Foi quando se virou para ir para festa, quando viu um olhar preocupado tão próximo dos seus.
- Tá tudo bem? – ela perguntou tão preocupada –
- Tá sim – respondera com desanimo –
- Não parece...
- Tá tudo bem, não se preocupe.
- Já sei o que posso fazer pra você se animar, - calou-se e ficou vermelha e toda tímida – Gostaria de dançar... Comigo?
- Nossa não conhecia esse seu lado... Sensível.
- Nem eu.
Ele pegara na mão dela e começaram a dançar uma música calma. Dançavam como se fossem profissionais. Isso chamara a atenção de curiosos, que ficavam atentamente olhando. Quando a música terminou, ele a segurou pelo corpo e a beijou. Um momento mágico, único.
Aplausos e mais aplausos. Gritavam pelo mais novo e belo casal.
- Por que isso?
- Porque eu te amo. Nunca tive uma chance de lhe dizer que eu te quero mais que tudo.
- Sabe... Então somos dois – disse sem-graça –
Ficaram até o pôr-do-sol contando histórias, fazendo brincadeiras. Nem o sono atrapalhava, afinal, eles estavam aproveitando o tempo que perderam.
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